Faleceu durante esta madrugada o médico Cândido Ferreira, natural de Febres, concelho de Cantanhede, e residente em Leiria.
Cândido Ferreira nasceu em 1949, em Febres, mas o rumo da vida levou-o a fixar residência em Leiria, onde viria a casar e onde instalou em 1982 uma das primeiras clínicas de hemodiálise do país, a Eurodial. Foi responsável clínico por mais de um milhão de sessões de hemodiálise e pioneiro de algumas técnicas de diálise, bem como no tratamento de diabéticos insuficientes renais.
Ainda na saúde, integrou a fundação da Anadial – Associação Nacional dos Centros de Diálise, liderou o Hospital de Pombal em 1976, foi assistente de Nefrologia na Faculdade de Medicina de Coimbra e integrou a equipa do médico Linhares Furtado que organizou a primeira consulta de transplantação e Portugal e a primeira colheita de órgãos.
Em 2008, assumiu o cargo de delegado distrital de Leiria, convidado por uma das candidaturas à Ordem dos Médicos. Colaborava esporadicamente em jornais médicos, com vários trabalhos publicados na revista oficial da Ordem dos Médicos.
Cândido Ferreira destacou-se também na política. Chegou a ser detido por atividades contra o Estado Novo e em 1974 filiou-se no Partido Socialista, integrando o Secretariado da Zona Centro. Indigitado por oito concelhias do PS do distrito de Coimbra, recusou integrar a Assembleia Constituinte, optando pela carreira médica.
Entre 1985 e 1989, foi membro da Assembleia Municipal de Leiria, e candidatou-se à presidência da Câmara de Leiria, onde foi vereador. Entre 1991 e 1995, presidiu à Federação Distrital de Leiria do PS, tendo sido ainda diretor de campanha da candidatura de Jorge Sampaio à Presidência da República.
Em 2011, contestou a liderança de José Sócrates, acabando por pedir a demissão do PS, sem ter tomado posse na comissão nacional para a qual tinha sido eleito. No ano de 2015, chegou a candidatar-se a Presidente da República.
Além da política, da saúde e do domínio cívico, Cândido Ferreira dedicou-se também à escrita. É autor dos romances “O Senhor Comendador”, “A Paixão do Padre Hilário” e “Setembro Vermelho”, e de três livros de crónicas – “Os Burros”, “Esmeralda-Sim!…” e “Pelas Crianças de Portugal”. Foi distinguido na Enciclopédia de Artistas Médicos e na Antologia de Ficcionistas da Gândara.
A Câmara Municipal de Leiria divulgou já esta manhã um comunicado onde lamenta o falecimento de Cândido Ferreira.
“O exercício da medicina era mais do que uma paixão, através da qual tratava os seus pacientes com humanidade, sem procurar proveitos próprios, traços que o levaram ao reconhecimento internacional, ao desenvolvimento de parcerias fora das nossas fronteiras e à publicação de inúmeros artigos”, frisa na nota, onde realça o seu percurso profissional e autárquico, como também no sector da Cultura.
“Inquieto por natureza, Cândido Ferreira era um homem ligado às artes e a sua intervenção na cultura fica marcada pelos romances que escreveu”, acrescenta a autarquia.
As cerimónias fúnebres realizam-se na quinta-feira, dia 23, pelas 14h30, na igreja dos Pousos, seguindo para o cemitérios de Febres, no concelho de Cantanhede.
(atualização às 13h20 de dia 21 de março de 2023, com horário das cerimónias fúnebres)