Pode passar muito tempo despercebida, porque as doentes dominam a arte do disfarce. No entanto, quando diagnosticada, a anorexia é uma das perturbações do comportamento alimentar mais desafiantes para um médico.
Verifica-se, sobretudo, em adolescentes do sexo feminino. As causas são multifatoriais, não sendo, no entanto, alheio o facto de nesta fase existir uma preocupação acrescida com o corpo.
No episódio desta semana do podcast “Mentes Inquietas”, Graça Milheiro, pedopsiquiatra, e Daniel Machado, médico interno de Psiquiatria, ajudam os pais a identificar sinais de alerta. Saltar refeições, eliminar alguns alimentos ou aumentar a prática de exercício físico podem indiciar uma perturbação.
“Estas doentes são muito ardilosas”, refere Daniel Machado. Outro sinal a que os pais e companheiros podem estar atentos, e que o médico sublinha, é a forma como elas se servem à mesa. “Espalham a comida no prato de forma a parecer que há mais do que realmente há. É um truque”.
Graça Milheiro complementa: “e partem tudo aos bocadinhos para parecer mais comida do que aquela que é”.
Na base da anorexia está “o medo enorme de ganhar peso, de perder o controlo e não conseguir parar de comer”, define a pedopsiquiatra. Por seu turno, a bulimia corresponde a “episódios de perda de controlo da ingestão, em que a doente, num curto de espaço de tempo, come alimentos muito calóricos, em quantidades claramente exageradas para qualquer pessoa”, descreve Daniel Machado.
Na tentativa de recuperar o controlo, quem sofre de bulimia procura, depois, eliminar o excesso de calorias ingeridas. O vómito é o comportamento compensatório mais frequente, mas o exercício físico excessivo, o recurso a laxantes e a diuréticos são igualmente recorrentes.
Um traço comum nas anoréticas e nas bulímicas é a “vergonha associada a estes comportamentos e ao próprio corpo”, explicam os médicos. “Há uma autoestima muito baixa e uma tentativa de controlar todos os aspetos da vida”, acrescentam.