Desilude-me a triste situação de muitos jovens que vivem na incerteza do dia seguinte, do mês seguinte e por aí adiante, sem poderem fazer projetos de vida e para a vida, por serem “forçados” depois de anos e anos de estudo, de dedicação, de esforço, a trabalhar a recibos verdes, por vezes em condições miseráveis. E passo a citar em concreto o exemplo de uma das minhas filhas que tem uma licenciatura em Biologia e um doutoramento em Bioquímica que terminou em 2008, daí para cá, os trabalhos que conseguiu foram sempre precários e a recibos verdes.
Inclusive algumas instituições de ensino são um mau exemplo. Contratam para lecionar, a recibos verdes por dois ou três meses de trabalho por ano, conforme os cursos que abrem e mantêm-nos como trabalhadores a tempo parcial, porque legalmente precisam de ter elementos no seu corpo docente com qualificação e habilitação.
Como se sentem os pais que investiram na formação dos filhos, para que, agora, o fim deles seja o que referi?
Qual foi a vantagem que o meu “país /o Estado/o Governo/os contribuintes” teve ao atribuir aos jovens, e falo no caso concreto da minha filha, uma bolsa pelo seu mérito, pelo seu aproveitamento, aproveitamento esse que a dispensou do mestrado e passou diretamente para o doutoramento e no fim caiu na situação que descrevi?
Pergunto qual a sua opinião relativa ao envio de mais de mil e duzentos currículos (1.200) e receber meia dúzia de respostas?
Será uma questão da fraca mentalidade e pouca ambição dos empregadores?
Ou com alguma ironia pergunto, será que pode o currículo conter algo que possa amedrontar e parecer estar a ser apresentado por alguém desesperado capaz de alguma atrocidade?
Tenho duas filhas e neste momento, uma teve de emigrar e a outra encontra-se sem trabalho pelo acima exposto.
Senhora Ministra, peço por favor que pense um pouco e se coloque no meu lugar e no lugar de tantos outros pais, que veem os sonhos e as esperanças dos seus filhos defraudados.
Uma coisa é a realidade concreta vista e sentida por nós que a vivemos diariamente, outra coisa são as decisões do Parlamento. Acredito, pois, que uma profunda incursão no terreno, uma saída dos gabinetes, para poderem avaliar, ver com os vossos próprios olhos, ouvir e sentir o que vai na alma deste povo, colocar-se no lugar dos mesmos, principalmente dos que não têm amigos influentes -, e refiro isto porque sei do que falo, dado que trabalho com público há décadas e conheço casos concretos – possa ajudar a encontrar soluções para os jovens que se encontram na mesma situação.
Senhora Ministra, sou contra este mundo do salve-se quem puder, do passar por cima dos outros. A educação que recebi foi a da humildade, da honestidade, da humanidade, valores que infelizmente parecem estar em vias de extinção. Teria muito mais para expor, mas fico-me por aqui, na esperança de obter respostas, se assim o entender. E falo desta forma porque estou habituado a muita coisa, principalmente à falta de cumprimento da palavra dada, mas continuo e luto na defesa desse princípio.
MC
Leiria
Valerio Puccini disse:
Caro MC, a sua carta está repleta de amargura, sentimento infelizmente partilhado por milhares de cidadãos na sua condição. Trabalhe, sacrifique-se para garantir que as crianças tenham um futuro melhor e fiquem sem nada em mãos. Se então alguém pensa que isso acontece quando o governo é de esquerda, a amargura só pode aumentar.
As ciclovias crescem mas ninguém as percorre. Os parques eólicos crescem, mas a eletricidade continua a crescer. Os carros elétricos estão a crescer, mas os preços de compra não estão a cair. Os pais fazem sacrifícios para que os filhos possam estudar e construir um futuro mas fantoches sem cérebro, criam dinheiro e “cultura” nas Redes Sociais. Onde está o erro? Porque certamente há algum lugar onde algo não está certo …ou não…?!?
Infelizmente as coisas acontecem assim em todo o mundo, mas num país governado pela esquerda parece mais estranho, né?!?
E então vamos voltar à origem. Tudo começa na votação, pelo menos até nos permitirem votar. Cada um de nós deve ter isso em mente, começando pela próxima vez. Passar a votar com base nos próprios interesses, o que não significa ser egoísta, mas sim fornecer certas indicações à classe política. Indicações que, uma vez manifestada a maioria, não permitem que a classe política se esconda atrás de um dedo. Como infelizmente tende a fazer a política, facilitada pelos muitos cidadãos que votam por ideologia e não por interesse. Se este círculo vicioso não for quebrado, muitos pais continuarão a encontrar-se na sua condição e muitas crianças permanecerão prisioneiras de uma busca de um futuro, sem futuro. Existem apenas as necessidades dos cidadãos. Necessidades que são atendidas ou ignoradas.
Todo o resto é barulho.