“Esta é uma zona da freguesia calma, que está a atrair habitantes, há novas construções e projetos, fica entre Leiria e Pombal, junto ao IC2, e a ideia de instalar uma exploração de inertes dentro da comunidade, próximo de um lar, da escola básica e de uma creche é algo que não conseguimos entender”.
Quem o diz é Pedro Nuno de Sousa, habitante da freguesia de Colmeias e Memória, no concelho de Leiria, e um dos responsáveis pelo movimento que a população está a organizar para contestar um pedido de atribuição de direitos de prospeção e pesquisa de depósitos minerais para Agodim.
Para manifestar o seu desagrado pelo processo, amanhã, sábado, dia 2, vai realizar-se uma caminhada, pelas 17h45, com saída do clube Sete Arcos, para percorrer a zona onde está prevista a exploração: Agodim, Talos e Vale d’Água.
Esta não é a primeira vez que as populações da região se manifestam desta forma contra a exploração de inertes. Em março, os habitantes da Barosa, também no concelho de Leiria, também realizaram uma caminhada de protesto para um processo de prospeção e pesquisa que, entretanto, foi suspenso.
Para Agodim, o processo, da empresa Adelino Duarte da Mota, SA, está em consulta pública até dia 11 de setembro e pretende obter licença para a prospeção e pesquisa de depósitos minerais de argilas especiais em “Cabeço Redondo”, numa área de 83 hectares. Até esta quinta-feira, foram realizadas 40 participações.
A União das Freguesias de Colmeias e Memória deu parecer “totalmente desfavorável” ao pedido, enquanto a Câmara de Leiria emitiu parecer favorável condicionado, alegando falta de justificações legais para outra posição.
“O que se pretende não é reivindicar quaisquer contrapartidas financeiras ou equivalentes, sejam essas quais forem, mas sim, o direito à qualidade de vida que de uma forma deliberada está a ser retirada a estas populações”, indica o movimento.
“Sabemos que o tempo é curto e escasso. A verdade é que se trata ainda de um pedido de prospeção e pesquisa, mas quem está em Lisboa sentado numa cadeira não tem noção dos impactos que uma atividade deste género provoca na população”, afirma o porta-voz, justificando que a zona norte da freguesia, no Barracão, já se encontra “altamente penalizada” e que nesta zona da freguesia, em Agodim, que ainda não está afetada pelas explorações, “é quase como o cair de uma bomba”.
“Atualmente, na freguesia, localidades como Barracão, Igreja-Velha, Portela do Outeiro, Crasto, Lourais, Sapinha, Serra do Branco e outras, já estão fortemente afetadas por estas atividades extrativas. Na localidade de Barracão, por exemplo, não se pode abrir portas ou janelas, quanto mais colocar roupa a secar em estendal, porque o pó existente devido aos armazéns, passagem de camiões ou transformação dos inertes não o permite. Esta nova zona alvo, fica paredes-meias com as localidades de Agodim, Talos e Vale d’Agua, e fica, literalmente, apenas com a ribeira de Agodim a separar, junto a um lar de idosos (Lar D. Luís), e perto das escolas primária e pré-primária de Agodim, assim como de uma creche e tempos livres, A Toquinha”, explica.
A par da caminhada, em simultâneo decorre uma petição pública online, que contava esta quinta-feira com mais de 650 signatários, e dois abaixo-assinados. Um deles referente ao pedido de prospeção e pesquisa em “Cabeço Redondo” e outro, em circulação desde meados de julho, e que visa exigir um estudo de ordenamento sobre a exploração de inertes na freguesia, a criação de vias alternativas para o respetivo transporte e “contrapartidas estatais ou camarárias a afetar ao interesse público e ao bem-estar da população”.