Um homem, de 41 anos de idade, que, numa residência em Lisboa, levava a cabo uma sofisticada operação de burla, do tipo “olá pai, olá mãe”, foi ontem detido pelo Departamento de Investigação Criminal de Leiria da Polícia Judiciária. O homem é suspeito de um elevado número de casos de burla, alguns dos quais, na nossa região.
Detido pelas autoridades enquanto estava em plena operação, o cidadão de nacionalidade estrangeira, a residir em situação legal no país, socorria-se de sete modens que suportavam 32 cartões SIM cada, o que implica que podia ter 224 cartões a funcionar simultaneamente.
A burla, em que alguém se faz passar por filho da potencial vítima, anunciando ao progenitor que mudou de contacto telefónico e que necessita de ajuda financeira, é simples e, aparentemente, produz resultados. Na área do Departamento de Investigação Criminal de Leiria, “este tipo de burla supera as 200 denúncias, com valores que, no total, ultrapassam os 100 mil euros”, adianta a PJ em comunicado.
O suspeito tinha em sua posse uma significativa quantidade de cartões SIM –usualmente usados para operar as comunicações de um dispositivo móvel – tendo já utilizado mais de 1.500, permanecendo por utilizar mais de sete mil cartões.
A investigação arrancou em setembro, culminando ontem com a detenção do suspeito que foi intercetado numa altura em que o equipamento usado na burla estava em plena operação. Avelino Lima, diretor do Departamento de Investigação Criminal (DIC) de Leiria da Polícia Judiciária, adiantou ao final da manhã, em conferência de imprensa, que as autoridades prosseguem a investigação, certos de que o suspeito agora detido não operava sozinho.
“Estamos a falar de um cidadão estrangeiro que não atuou sozinho”, adiantou, referindo tratar-se de “um elemento relevante com um papel fundamental na organização, tinha uma exclusividade de trabalho criminoso”.
As autoridades estão certas de que o suspeito integra uma atividade com ramificações internacionais: “esta investigação será objeto de intervenção, principalmente da Europol, pois estamos perante um fenómeno à escala planetária”, referiu Avelino Lima.
O suspeito não tem antecedentes criminais em Portugal, estando a ser averiguada se terá fora do país. “Pelo menos desde o início deste ano, o suspeito tinha esta atividade em exclusivo”, explicou o responsável da PJ que está certo que a análise aos cartões SIM usados revelará muitos mais casos de burla.
Para já, dos cartões que estavam em utilização nas máquinas usadas pelo suspeito, foram identificados “uma vintena de inquéritos em Portugal, na PJ, mas podem existir outras queixas na PSP, GNR ou no Ministério Público”, explica o diretor da PJ de Leiria que adianta que entre essa “vintena de inquéritos, três [são] neste departamento”.
As autoridades vão agora analisar os restantes cartões já utilizados pelo homem agora detido, certos de que encontrarão muitos outros casos de burla.
Avelino Lima lamentou a facilidade com que é possível, em Portugal, ter acesso a estas quantidades de material, sem que existam registos, ao contrário do que sucede noutros países, exortando os legisladores a analisarem esta situação e avançar com o enquadramento legal que permita mitigar a situação atual. “É lamentável a facilidade com que as pessoas que se dedicam a este tipo de criminalidade, obtêm esta quantidade imensa de cartões sem qualquer registo ou controlo”, frisou.
“Portugal não é um país só de sol e praia. Determinados indivíduos que têm necessidade de uma base, se calhar podem, em Portugal, ter boas condições para essa base. É isso que temos de apreciar”, salientou. Trata-se, entende, de uma “fragilidade para a segurança no nosso país”.
O suspeito adquiriu os cartões SIM de forma lícita e o acesso aos dados das potenciais vítimas da burla é possível através da aquisição de bases de dados de contatos, muitas vezes disponíveis na darkweb.
Em consequência desta detenção, as autoridades estimam que surjam mais participações de casos deste género. O suspeito deverá ser apresentado esta tarde a primeiro interrogatório em Tribunal, altura em que deverão ser determinadas as medidas de coação a que será sujeito.
