A crise na habitação está a dificultar o pedido de ajuda das vítimas de violência doméstica e o apoio de acolhimento aos novos casos, disse a presidente da Associação Mulher Século XXI, em Leiria.
Este ano, a Associação Mulher Século XXI registou uma diminuição dos novos casos, passando de 197 para 165 – até outubro deste ano. A presidente Susana Ramos Pereira afirmou na sexta-feira, dia 24, que os números não espelham a realidade.
“Acreditamos que a diminuição está a acontecer devido a dois fatores: a crise económica e a habitacional, que impede as vítimas de conseguirem tentar uma nova vida sozinhas”, referiu.
Segundo Susana Ramos Pereira, a casa de acolhimento de emergência da Mulher Século XXI tem como finalidade receber as vítimas por um período de 15 dias, que se podem prolongar por outros 15. “É um período para acalmar as mulheres, mostrar que estamos com elas e tentar ajudá-las a iniciar o processo de divórcio e regulação do poder paternal para que possam recomeçar numa casa abrigo”, explicou.
No entanto, a presidente desta associação não-governamental e sem fins lucrativos revelou que a casa de acolhimento registou um número máximo de permanência de 197 dias, o mais alto dos últimos três anos. O tempo médio das mulheres e crianças naquela resposta foi de 34 dias em 2023.
Susana Ramos Pereira constatou ainda que a situação é transversal às casas abrigo, onde as vítimas podem permanecer por seis meses, período que se pode prolongar por outros seis. “Com a crise habitacional estamos a verificar que as vítimas não têm para onde ir, logo não abrem novas vagas nas casas abrigo, o que faz com que não possam entrar mais pessoas”, lamentou.
A responsável exemplificou com a resposta de emergência de Leiria, que este ano acolheu 50 vítimas número inferior às 69 do ano passado.
“As entidades como nós têm cada vez mais dificuldades em se financiarem, já que dependem de candidaturas a fundos europeus, com requisitos desproporcionais face à nossa estrutura organizativa. O Programa 2030 ainda não está a pagamento e a Associação Mulher Século XXI está quase sem dinheiro para sobreviver”, alertou ainda Susana Ramos Pereira.
A presidente apelou, por isso, que existe uma dotação inscrita no Orçamento do Estado para estas associações, que “prestam serviços essenciais ao país”.
Este sábado, dia 25, data em que se assinala o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, a Mulher Século XXI lança a campanha solidária “Basta – É hora de ajudar!”.
A campanha, desenvolvida em parceria com a agência de publicidade Sistema4 e com o apoio institucional do Município de Leiria, gira em torno da ORANGE BOX – Presentes para Ajudar, um espaço inserido no Leiria Natal, que foi inaugurado este sábado, onde podem ser adquiridos presentes surpresa para oferecer este Natal, a partir de cinco euros.
Susana Ramos Pereira adiantou que o valor angariado neste espaço irá suportar a aquisição de um veículo.
“Vamos a muitas escolas e prestamos apoio psicológico a muitas crianças. Este ano já realizámos 880 atendimentos, número que mais do que duplicou em comparação com o ano passado [389]”, disse.
A ORANGE BOX – Presentes para Ajudar estará em funcionamento, junto à Sé de Leiria, todas as sextas (18:00 e as 22:00), sábados (10:00 e as 22:00) e domingos (13:00 e as 19:00) até ao dia 23 de dezembro.
Entre janeiro e 22 de outubro de 2023, em todo o país, 15 mulheres perderam a vida em contexto de femicídio, dez delas tinham filhos menores, que ficaram órfãos, refere um comunicado da Mulher Século XXI.
O Relatório do Observatório de Mulheres Assassinadas nota que 25 mulheres morreram entre janeiro e 22 de novembro em Portugal, mas dez dos casos sem causas de género associadas. Em período homólogo de 2022, houve 28 assassinatos de mulheres, dos quais 22 femicídios, acrescenta a nota.
Contactos e números de emergência
- 112 – Número de telefone de emergência único europeu (chamada gratuita)
- 144 – Linha Nacional de Emergência Social
- 800 202 148 – Serviço de Informação a Vítimas de Violência Doméstica (CIG – Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género)
- 116 006 – Linha de Apoio à Vítima (APAV – Apoio à Vítima) (chamada gratuita – Dias úteis das 8 às 22 horas)
- SMS – 3060
- No Portal da Queixa Eletrónica em queixaselectronicas.mai.gov.pt –
- Na aplicação App MAI112, exclusivamente para cidadãos surdos www.112.pt/Paginas/Home.aspx –
- Na aplicação SMS Segurança, para pessoas surdas www.gnr.pt/MVC_GNR/Home/SmsSeguranca –
- No Posto da GNR ou na esquadra da PSP mais próximos
Associação Mulher Século XXI
Largo Rainha Santa Isabel, Nº1 r/c Dto 2410-165 Leiria
Tel. 244 821 728
Tlm. 964 854 462
Tlm. 910 908 368
email. geral@mulherseculoxxi.com
Centro de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica
244 821 728
Linha de Apoio à Vítima Idosa de Violência Doméstica (chamada gratuita)
800 210 340
VP disse:
Acredito que a estatística, útil como ferramenta de análise de um fenómeno, deve ser “exaustiva”, integrando “todos” os dados necessários à compreensão do próprio fenómeno. Em primeiro lugar, falta um dado fundamental: a nacionalidade do atacante. Parece que por aqui indicar a nacionalidade de quem comete um crime é proibido por alguma lei, porque nenhuma notícia policial o informa. Saber se a “violência doméstica” é prerrogativa dos cidadãos portugueses ou de algum hábito diferente “importado” seria um primeiro elemento essencial de clareza. Além de saber qual o nível de escolaridade das pessoas que cometem esse tipo de crime odioso. Sou cidadão italiano e no meu país estes dados fazem parte da denúncia criminal e evitam generalizações incómodas. Deveríamos então pensar que só os cidadãos portugueses cometem estes crimes…? Deveremos pensar que o nível de escolaridade do cidadão médio português é tão baixo que torne estes crimes “naturalmente” endémicos…? Sinceramente não penso assim, pelo menos pelo que pude constatar nos 5 anos que passei em Leiria mas, e como sempre há um mas, se assim fosse, então seria oportuno apontá-lo à opinião pública com ênfase para garantir que o fenômeno se torne objeto de discussão e consequentemente de “vergonha” para quem o comete. Em casos como este, o politicamente correto só serve ao “lobo culpado”, nunca às “ovelhas inocentes”.