“Em novembro, foi publicada uma entrevista à diretora do Serviço de Urgência (SU) Geral do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), onde referiu que “o grande problema das urgências são os cuidados de saúde primários”.
Apresentou dados falsos e sem referências das fontes. Revelou profundo desconhecimento do trabalho desenvolvido nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), apesar de terem existido muitas oportunidades para tal ter sido evitado, nomeadamente reuniões interdisciplinares.
Em 2020, iniciou-se um processo de melhoria da articulação de cuidados com a criação de grupos de trabalho, envolvendo profissionais do CHL e do Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) Pinhal Litoral, incluindo um sobre o acesso ao serviço de urgência.
Devíamos retomar esse caminho, analisando os utilizadores hiperfrequentadores, estudando estratégias para aumentar a literacia em saúde e capacitando a população em autocuidados.
O Conselho Clínico e de Saúde do ACeS Pinhal Litoral, com responsabilidades na prestação de cuidados de saúde às populações de Leiria, Pombal, Marinha Grande, Batalha e Porto de Mós, sentiu que os seus profissionais foram insultados.
Na verdade, as palavras que inicialmente feriram, depois de devidamente analisadas, acabaram por ser relevadas porque denotam profunda ignorância e, quiçá, algum desespero na tentativa de encontrar culpados fora de portas.
Os indicadores (descontextualizados), tidos como negativos no artigo, são ferramentas de gestão importantes que permitem dizer, com toda a propriedade: Não, o problema do SU do CHL não são os CSP! Refletem o bom trabalho realizado pelas equipas, tendo sempre o cidadão no centro da sua atenção.
Relativamente à sua queixa dos CSP não tratarem os doentes com situações agudas, apresentamos os números de setembro (dados mais recentes disponíveis). Foram atendidos 14 438 episódios de urgência no SU geral do CHL, dos quais 59% triados como urgentes (ACSS – monitorização diária dos serviços de urgência).
Nesse mesmo mês, no ACeS Pinhal Litoral, foram realizadas 66 027 consultas, das quais 34 730 presenciais, 16 268 por situações agudas (BI – CSP). Note-se que o ACeS Pinhal Litoral tem mais de 300 mil utentes inscritos, com mais de 80 mil sem médico de família atribuído.
Estamos com uma grave falta de médicos, mas vamos fazendo o nosso melhor e estaremos sempre do lado da solução.
Numa ótica de integração de cuidados, premissa base para a nova ULS da Região de Leiria, torna-se inadmissível uma postura de ataque de qualquer uma das partes envolvidas.
O ACeS Pinhal Litoral também poderia encontrar um conjunto de argumentos para atacar o CHL, pela dificuldade de resposta nas referenciações para várias especialidades, mas entendeu sempre que esse não é o caminho certo.
É essencial garantir o respeito pelas instituições, pelos seus profissionais e, mais ainda, pelos utentes. É ainda mais importante garantir que não se desperdice energia desta forma, quando ela é tão importante para garantir a manutenção do nosso SNS.
O Conselho Clínico e de Saúde do ACeS Pinhal Litoral: Ana Carolina Saraiva, Denise Velho, Diogo Urjais, Helena Costa, Rui Passadouro“