Uma taberna com mais de cem anos recebe domingo, dia 24, na Ilha, no concelho de Pombal, a tertúlia “Histórias de Abril nas tabernas”, para refletir o que mudou 50 anos depois do 25 de Abril.
No café “O lanheiro” há cinco convidados, mas todos podem participar numa conversa que recupera a tradição de pensar ali a aldeia e o mundo de forma progressista e livre, à semelhança do que aconteceu nas décadas de 60 e 70 do século XX.
“Vamos ouvir histórias de pessoas reais, da pobreza, dos privilegiados, das coisas novas e antigas, da guerra, das províncias ultramarinas e do desejo de querermos uma vida melhor para todos”, referiu a organização do evento.
Luís Couto, organizador da sessão, explicou à agência Lusa que a história de “O lanheiro” remonta ao início do século XX – “o primeiro registo da taberna é de 1907” – e que, em pleno Estado Novo, a partir da década de 60, lá “falava-se em progresso, em desenvolvimento”.
“Para se ter uma ideia, esta nossa aldeia nem sequer uma estrada tinha: era um carreiro no meio dos pinhais para se conseguir chegar. Era mesmo um buraco profundo, sem qualquer acesso possível” e, mesmo assim, “neste local muito longe da discussão mais urbana que se fazia, sobre a esquerda ou a anti-ditadura”, na Ilha “havia um desejo de progresso”.
Isso levou a que “este grupo de pessoas que se reunia aqui”, mesmo “muito fora da intervenção política”, acabasse por “ser preso pela PIDE, porque queria abrir os caminhos da aldeia”, tentando tornar a Ilha mais acessível, “para que pudessem vender a resina a melhor preço”.
Neste encontro “Histórias de Abril nas tabernas”, “O lanheiro”, que mesmo mais de cem anos depois “continua pujante”, garantiu Luís Couto, acolhe a recriação das conversas que eram habituais na década de 60.
“Como é que podemos hoje, 50 anos depois, ainda aspirar a viver melhor, a ter melhores condições de vida, a falar em progresso, de riqueza, de pobreza, das dificuldades que atravessamos hoje e como é que queremos que o país continue a crescer para o futuro”, antecipou o organizador sobre o mote para a conversa.
N’“O lanheiro” a sessão começa às 15 horas de domingo com convidados que vão contar experiências diversas: Artur Carreira fugiu à Guerra Colonial, Isabel Fernandes teve de sobreviver aos movimentos independentistas angolanos, Amândio Neves vibrou com o 25 de Abril e participam ainda dois professores universitários, naturais da Ilha, já aposentados: António Moderno, que fez parte da Comissão Administrativa da Câmara de Pombal para as primeiras eleições autárquicas livres no município, e António Couto, que também vai contar como era a vida no Ultramar.
Sem ligação “a nenhuma instituição ou formalismo”, porque “o 25 de Abril é a nossa vida do dia a dia”, o momento servirá também para lembrar “uma geração muito interessante de pessoas que surgiu desta taberna, destas discussões, desta vontade de sair daqui, de evoluir, de crescer, de querer um mundo melhor”, concluiu Luís Couto.