Um homem suspeito de tentar matar um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) quando este acorreu a uma situação de violência doméstica em Leiria vai ser julgado em abril.
O arguido, de 41 anos, em prisão preventiva, vai responder no Tribunal Judicial de Leiria pelos crimes de violência doméstica, maus-tratos, homicídio qualificado na forma tentada e detenção de arma proibida, segundo o despacho de acusação do Ministério Público (MP) a que a agência Lusa teve acesso.
No despacho lê-se que arguido e companheira viviam juntos desde 2003, tendo uma filha deste relacionamento.
“Desde há cerca de quatro anos que o arguido passou a ingerir bebidas alcoólicas em excesso e a manifestar ciúmes” da companheira, “bem como a manter discussões frequentes com a mesma, nas quais lhe diz que a mata, lhe desfere chapadas e socos na cara, provocando-lhe lesões nas zonas atingidas”, adiantou o MP.
Entre outros aspetos, o despacho relatou que, em 31 de março de 2023, a mulher, que estava no quarto com o arguido, “chamou pela filha, pedindo ajuda”, e comunicou-lhe que “o arguido a queria matar”.
Após a filha entrar no quarto, o arguido, estrangeiro, empurrou-a “com força, o que fez com que esta caísse para cima da cama, partindo-a”, e deu um soco à mulher na cara, acabando o sobrinho daquele por o segurar e possibilitar que as vítimas se refugiassem noutro quarto.
Neste, estava o sobrinho da mulher que encostou o seu corpo à porta, do lado de dentro, para evitar a entrada do arguido que, entretanto, foi buscar um ferro e voltou para junto do quarto, pedindo à mulher e filha que saíssem, “continuando a anunciar que ia matar” a companheira e partir as pernas à filha.
A mulher contactou a PSP, que enviou três agentes ao local, tendo o arguido ido à cozinha buscar duas facas.
Os polícias disseram ao homem para sair e largar as facas, mas este “não só não acatou a ordem, mantendo-se dentro de casa, como disse aos agentes policiais que os matava se entrassem”, descreveu o MP.
Quando saiu da residência, o arguido empunhava na direção dos agentes “uma faca em cada mão”, tendo um dos polícias usado gás pimenta para o neutralizar.
O suspeito fugiu para casa, mas voltou pouco depois, e, ao ser abordado pelo mesmo agente, desferiu-lhe um golpe.
A detenção do arguido apenas foi possível com a intervenção de uma equipa de intervenção rápida da PSP.
O agente da PSP foi transportado para o hospital de Leiria e, na madrugada do dia seguinte, transferido para uma unidade hospitalar de Coimbra, de onde teve alta em 03 de abril.
No dia 18 do mesmo mês, o polícia deu entrada na urgência do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra na sequência de um enfarte pulmonar com origem “em lesão da veia grande safena direita por arma branca”, onde ficou internado até dia 27 seguinte.
O agente, cujas lesões são descritas no despacho, continua a ser seguido por diversas especialidades médicas.
O MP sustentou que “o arguido sabia que a sua conduta, o instrumento usado e a zona atingida e que pudesse atingir eram adequados a produzir a morte do agente (…), vontade que lhe manifestou diretamente antes de desferir o golpe”.
Para o MP, o detido “atingiu a vítima com intenção de lhe tirar a vida, ciente da letalidade da zona que atingia”, considerando que também agiu para afetar o “bem-estar físico e psíquico”, assim como a tranquilidade honra e dignidade pessoais da mulher e filha.
O julgamento, por um tribunal coletivo, está previsto iniciar em 23 de abril.