O homem acusado de tentar matar com uma faca um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) em Leiria, quando este acorreu a uma situação de violência doméstica, disse hoje em tribunal não se lembrar.
“Não me lembro dessa facada”, disse ao coletivo de juízes do Tribunal Judicial de Leiria o arguido, de 41 anos, que responde pelos crimes de violência doméstica, maus-tratos, homicídio qualificado na forma tentada e detenção de arma proibida.
O caso remonta a 31 de março de 2023, quando a PSP foi chamada a uma situação de violência doméstica, numa residência em Leiria, de acordo com o despacho de acusação do Ministério Público (MP).
Entre outros aspetos, o MP descreveu que quando arguido e companheira estavam no quarto, aquela “chamou pela filha, pedindo ajuda”, e comunicou-lhe que “o arguido a queria matar”.
Após a filha entrar no quarto, o suspeito, estrangeiro, empurrou-a “com força, o que fez com que esta caísse para cima da cama, partindo-a”, e deu um soco à mulher na cara, acabando o sobrinho daquele por o segurar e possibilitar que as vítimas se refugiassem noutro quarto.
Neste, estava o sobrinho da mulher que encostou o seu corpo à porta, do lado de dentro, para evitar a entrada do arguido que, entretanto, foi buscar um ferro e voltou para junto do quarto, pedindo à mulher e filha que saíssem, “continuando a anunciar que ia matar” a companheira e partir as pernas à filha.
Após a mulher ter contactado a PSP, ao chegarem ao local, os polícias disseram ao arguido – que, entretanto, tinha ido buscar duas facas – para sair e largá-las, mas este “não só não acatou a ordem, mantendo-se dentro de casa, como disse aos agentes policiais que os matava se entrassem”.
Quando saiu da residência, o arguido empunhava na direção dos agentes “uma faca em cada mão”, tendo um dos polícias usado gás pimenta para o neutralizar, relatou o MP, adiantando que o suspeito fugiu para casa, mas voltou pouco depois, e, ao ser abordado pelo mesmo agente, desferiu-lhe um golpe.
O agente da PSP foi transportado para o hospital de Leiria e, na madrugada do dia seguinte, transferido para uma unidade hospitalar de Coimbra, de onde teve alta em 3 de abril.
No dia 18 do mesmo mês, o polícia deu entrada na urgência do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra na sequência de um enfarte pulmonar com origem “em lesão da veia grande safena direita por arma branca”, onde ficou internado até dia 27.
Em julgamento, o homem, detido preventivamente, negou ter agredido e ameaçado de morte a companheira ou que ia partir as pernas da filha.
“Não ia bater nelas, ia conversar”, declarou, reconhecendo que naquele dia tinha “bebido bastante uísque e vinho” e que começou a beber “há uns cinco, seis anos”.
O suspeito garantiu ainda que quando foi buscar duas facas à cozinha não era para “fazer mal” aos polícias, mas “ia cortar os pulsos”.
“Era para mim, não para fazer mal”, afiançou.
O arguido negou também ter dito aos polícias que os matava se entrassem na casa, alegando que levou com “cassetete na cabeça” e “gás pimenta na cara”, não se recordando do que ocorreu depois.
“Não sei [como é que o polícia ficou ferido]”, sustentou.
Na sessão de hoje de manhã, após pedido do procurador da República, o tribunal determinou a extração de certidão para abertura de inquérito criminal por alegadas falsas declarações prestadas pela companheira do arguido, que se constituiu assistente, dadas as discrepâncias com declarações anteriormente prestadas.
Ainda de manhã, o tribunal começou a ouvir o agente da PSP, de 43 anos, que ficou ferido, também assistente no processo, que continua a ser seguido por diversas especialidades médicas.
A audição prossegue esta tarde.