O projeto Multi Cool Coral, de Margarida Mestre, vai iniciar nova fase de criação de corais abertos a vozes de todas as nacionalidades residentes da Marinha Grande, no distrito de Leiria, Ourém, no distrito de Santarém, e Viseu.
O arranque será na Marinha Grande, no domingo, às 10h30, com a captação de participantes. No Parque Mártires do Colonialismo, haverá explicação do projeto, demonstrações e práticas vocais e “recolha de canções que fazem parte do património popular e emocional”, explica à agência Lusa a diretora artística do coro.
Depois, durante uma semana, será realizado um workshop que culmina com duas apresentações, nos dias 20 e 21 de abril.
O formato idealizado por Margarida Mestre nasceu em 2022, no âmbito do programa “Bowing Back”, de Madalena Victorino, em Odemira. Já enquanto Multi Cool Coral, a estreia foi em 2023, integrado no Festival Giacometti, em Ferreira do Alentejo, onde um coral de imigrantes foi criado em quatro meses.
“‘Cool’ significa que é empático, simpático, acessível a todos, e ser uma palavra em inglês simboliza a mistura de línguas”, explica a criadora, que brincou, no título do projeto, com a semelhança fonética com a palavra “multicultural”.
Agora, o projeto terá “uma primeira experiência de fazer uma semana intensiva”. Depois da Marinha Grande, segue para Viseu, onde a apresentação final será no dia 25 de maio, no Festival TRIP – Parque Linear do Rio Paiva, e vai até Ourém, com espetáculo no Teatro Municipal, no dia 30 de junho.
Para a Marinha Grande, onde, segundo o município, habitam pessoas de 35 nacionalidades e mais de mil crianças estrangeiras frequentam as escolas, Margarida Mestre e o Multi Cool Coral partem com “muita esperança”, mesmo sabendo que “não é um processo fácil” fazer com que os imigrantes se aproximem.
A diretora artística sabe, pelas experiências anteriores, que são “as populações da América Latina” que mais se facilmente juntam as suas vozes ao coral, enquanto “as comunidades asiáticas são as mais difíceis”.
“As comunidades de leste podem também não ser fáceis, depende de há quanto tempo estão em Portugal”, sublinhou. Certo é que “todos os que não são legais têm receios” e que “há questões de género” em determinadas nacionalidades, porque sem o homem, a mulher não pode ir. De todos sabe que terá de haver sacrifício do pouco tempo livre disponível: “São estas comunidades que têm os trabalhos mais pesados, durante muitas horas”.
Entre quem estiver, o desafio será juntar vozes a reinterpretar canções de vários lugares e categorias, sejam canções de trabalho, de embalar, de amor, de partida ou sobre a vida.
Margarida ligará as pontas, explorando harmonias, ritmos, ambientes sonoros e paisagens, enquanto se ouvem e aprendem várias línguas.
“Brinco com essas matérias e, além disso, estou a potenciar o encontro de pessoas e o cruzamento de culturas”, num processo em que sente estar “a fazer um serviço social, de colocar as pessoas em contacto e a deixar em cada lugar sementes para que isso possa continuar”.
Para a responsável do projeto, o exercício proposto na Marinha Grande, Viseu e Ourém terá “um impacto social e também emocional muito grande”.
“As nossas sociedades estão a misturar culturas de forma avassaladora, há muita gente a mudar de país e as pessoas procuram maneiras de se integrar, de minimizar ostracismos, xenofobias, racismos, etc. Fazer arte com sentido social é, para mim, o que faz sentido”, concluiu.