O Presidente da República é esperado este sábado, dia 27, em Peniche para inaugurar oficialmente o Museu Nacional da Resistência e da Liberdade (MNRL), precisamente 50 anos depois dos presos políticos terem sido libertados da prisão política e dois dias após consumada em Lisboa a Revolução dos Cravos.
Este novo espaço, na Fortaleza de Peniche, integra a rede nacional de museus tutelada pelo Ministério da Cultura e resulta de um investimento de 2,95 milhões de euros, cofinanciado por fundos comunitários do Portugal 2020, a que se junta, nos arranjos à zona envolvente da fortaleza, mais 815 mil euros, também pelo PT2020, ambos lançados pela Direção-Geral do Património Cultural.
A diretora do MNRL, Aida Rechena, explica ao REGIÃO DE LEIRIA que o principal foco deste espaço cultural vai incidir, precisamente, sobre a resistência em prol da liberdade e de um regime político que privou o povo português da liberdade.
“Este é o grande chapéu deste museu e a primeira exposição que vai ser inaugurada, no dia 27, chama-se precisamente “Resistência e Liberdade” e todo o seu enfoque, por ser um museu nacional, será sobre todo o território do país”, destacou.
A responsável tem uma expectativa “muito grande” sobre o impacto que o museu terá em Portugal, “porque para a cadeia do Forte de Peniche vinham presos do país inteiro”. O Estado Novo, para desmembrar as redes da resistência e para castigar os presos, limitava o contacto entre si ao fazê-los circular pelo sistema prisional, num circuito que abrangia ainda as prisões de Aljube (Lisboa), Porto e Angra do Heroísmo, sendo o Tarrafal, em Cabo Verde, o destino mais terrível.
A exposição “Por Teu Livre Pensamento”, realizada entre 27 de abril e 31 de dezembro de 2019, antes da fortaleza fechar para obras, registou a visita de quase 133 mil pessoas, o que é um número muito alto para um museu que está fora de Lisboa, pelo que Aida Rechena frisa que “o facto de estarmos em Peniche não nos vai prejudicar em termos de público”. Acredita, por isso, que poderá registar a visita anual de 200 mil pessoas. Recorde-se que esta exposição resgatava momentos marcantes da história contemporânea, como a repressão e a violação dos direitos humanos pela ditadura militar e o Estado Novo, a Guerra Colonial, a resistência ao fascismo, o 25 de Abril e o regime democrático, tudo a partir da memória do lugar, a prisão de Peniche.
Por conhecer está a tabela dos preços da futura bilhética, sendo que aos domingos e feriados a visita será gratuita. A entrada será de livre acesso para aceder ao memorial de homenagem aos presos políticos, assim como à cafetaria e loja do museu.
O museu, que teve a visita há poucas semanas do ainda primeiro-ministro António Costa e do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, pouco antes de cessarem funções, terá um piso dedicado exclusivamente à vivência dos presos.
“Vamos explicar como viviam, como era o seu quotidiano, como aqui chegavam e o que lhes acontecia cá dentro”, explicou Aida Rechena.
Vai também existir um memorial aos que deram a vida pela liberdade, contendo os nomes dos que foram assassinados por serem resistentes. Junta-se ao outro memorial inaugurado há cinco anos, que contém os nomes dos presos políticos que passaram pelo Forte de Peniche mas, contudo, nunca estará fechado, porque as pesquisas que entretanto têm sido feitas vão descobrindo mais pessoas.
Museóloga de carreira e também de formação académica, Aida Rechena conclui que o MNRL nasceu da vontade popular. “O facto da sua reivindicação ter nascido logo após a noite de 25 de Abril de 1974, quando aqui estava concentrada à porta a população com cartazes a aguardar a saída dos presos e a faixa que dizia ‘Peniche exige o Forte para visitar e não para ficar’, acho que aqui está a génese do que se pretende”.
Um gesto que, para a museóloga, é encarado como o início de uma patrimonialização, de uma apropriação do espaço histórico da cidade piscatória, que durante o Estado Novo estava vedado à sua entrada. As célebres fugas de alguns presos políticos, como dos dirigentes comunistas Álvaro Cunhal e Dias Lourenço, estão entre as mais espetaculares a nível mundial, razão pela qual a responsável acredita que “estar aqui o museu numa cadeia do fascismo, só por si, já é um motivo de interesse internacional”.
Fica a faltar a terceira fase das obras na Fortaleza de Peniche, que abrangerão as instalações outrora ocupadas pela GNR, que tinha a competência de vigiar o espaço entre muralhas exterior à prisão política, da responsabilidade dos serviços prisionais e da PIDE. Este espaço tem grande potencial para ter utilidade museológica e cultural. De fora da primeira fase da empreitada esteve também o piso 1 do pavilhão A, reservado futuramente para galeria de exposições temporárias. E, ainda, as muralhas, que necessitam de uma grande intervenção para a sua consolidação, que requer um financiamento gigantesco, pelo que a intervenção terá forçosamente de ser faseada no futuro.
Texto: Paulo Ribeiro