Celebrar o cinquentenário do 25 de Abril, será por certo uma bandeira, mas é sobretudo um estado de alma. É o orgulho coletivo de sermos um povo capaz de transformar a dura realidade num sonho de esperança, é libertar a essência do humanismo e da ambição para prosseguir um caminho justo. Nesta comemoração, sentiu-se por todo o país essa energia tão pura e abrangente, mas agora mais solta, menos marcada, mais festiva e renovada. Em várias cidades por todo o mundo também se fez alusão a esta revolução feita por jovens que, pacificamente, pôs fim a um regime de opressão e alguns líderes mundiais vieram reconhecer o caráter universal e inovador do 25 de Abril de 1974, já considerado como o início da onda democrática que chegaria a Espanha, à Grécia ou ao Brasil. A escritora Lídia Jorge afirmou, há dias, que a “Grândola, Vila Morena” é, hoje, uma canção que ganhou escala planetária e já é um hino de afirmação democrática contra os atuais refluxos passadistas.
Em Leiria, em boa hora, a Câmara Municipal designou uma Comissão Organizadora das comemorações que foi capaz de desenhar e propor um programa vasto e diversificado que, ao longo de alguns meses, fomentou o diálogo e a descoberta de recantos da história, promoveu a realização de debates com personalidades de grande gabarito, levou às ruas música popular de qualidade, envolveu a comunidade nas atividades, honrou os leirienses que não se renderam à ditadura e fixou memórias como vetores de advertência e de reflexão, determinantes na construção do futuro que hoje começa. Por tudo isso, e ainda pelo bom gosto nos materiais gráficos, esta Comissão merece o reconhecimento público pela sua entrega a esta missão cívica.
Num tempo em que o elogio escasseia, aqui deixo o meu sentido agradecimento de cidadão, com a legitimidade de ter acompanhado e participado em quase todas estas iniciativas.
Pedro Melo Biscaia/Leiria