Uma exposição com caráter intimista, a partir dos desenhos e do que liga Álvaro Siza Vieira à cidade, nomeadamente a reabilitação do edifício do Moinho de Papel, é inaugurada este sábado em Leiria.
“Há duas mega exposições do arquiteto Álvaro Siza na Fundação de Serralves – da qual eu sou curador também – e outra na Fundação Gulbenkian. Esta exposição em Leiria não é idêntica a essas, nem tenciona ser”, mas sim “uma exposição intimista”, pensada “a partir da escolha do próprio Siza, dos seus desenhos criativos, do seu universo pessoal”, esclareceu à agência Lusa o curador António Choupina.
Em “Um diálogo entre o passado e o presente”, apresenta-se no Banco das Artes Galeria (BAG), em Leiria, “um lado diferente” do revelado em Serralves ou na Gulbenkian, “que têm focos e intenções diferentes”.
Álvaro Siza, que em 2009 desenhou a recuperação do histórico edifício do Moinho de Papel – datado de 1411, um dos primeiros da Península Ibérica destinado à produção de papel -, tem nesse projeto a sua única obra em Leiria.
O simbolismo desse espaço inspira um dos núcleos da exposição, não só pela obra em si como pela “característica mais intimista de relação com o próprio papel e o desenho”, enquanto “suporte criativo do artista-arquiteto”.
A relação biográfica de Álvaro Siza com a cidade está igualmente presente, através das “memórias de visitas em pequeno com os pais a Leiria” ou pela “tradição de outro grande arquiteto que tanto trabalhou em Leiria, Ernesto Korrodi”, autor do edifício que recebe a exposição.
Em destaque no piso térreo do BAG está o Moinho de Papel, num núcleo que explica o projeto e se apresenta um vídeo com as memórias de Siza sobre Leiria, sobre a conceção do edifício – um encontro entre “o contemporâneo e o vernacular” – e sobre a poética em torno da ideia de moinho.
Nas seis salas do primeiro piso do BAG mostram-se mais de quatro dezenas de desenhos divididos por temáticas, numa pequena instalação que sugere um “diálogo entre a arquitetura do Banco das Artes de Ernesto Korrodi e a arquitetura de Siza”.
Nesse percurso surge uma sala dedicada aos animais, “em particular cavalos, o primeiro desenho que Siza faz, ao colo do tio Quim”, desde “o cavalo de Tróia, a cavalos de corrida, a cavalos desconstruídos, a cavalos tipo esculturas africanas”.
Há também uma sala dedicada à mitologia de Édipo e Antígona e outra orientada para a importância do caderno, “elemento sempre presente na vida de Siza e suporte dos seus desenhos”.
Nas salas maiores do BAG apresentam-se retratos e também autorretratos do arquiteto, remetendo para “a ideia de aprender a ver”, e um espaço dedicado ao movimento do corpo.
Na última divisão relaciona-se “a génese gráfica deste arquiteto-artista” com “a sua educação cristã”, apresentando um lado religioso da obra de Siza, vertido na construção de capelas, igrejas e na criação de elementos característicos da cristandade, “desde o nascimento de Eva, a poesia da derrota de Golias, a crucificação de Cristo, etc.”, concluiu António Choupina.
“Um diálogo entre o passado e o presente” abre no sábado, às 16 horas, e fica patente até março de 2025.