A Casa da Irmã Lúcia, em Aljustrel, Fátima, que recebe 300 mil visitantes por ano, vai ser reaberta ao público na sexta-feira, após oito meses de obras de restauro e de museologia, que custaram mais de 338 mil euros.
Marco Daniel Duarte, diretor do Departamento de Estudos e do Museu do Santuário de Fátima, explicou que, “do ponto de vista da museologia”, a Casa-Museu foi preparada olhando para o imóvel “na perspetiva do que os peregrinos procuram encontrar”.
“Não a Lúcia [religiosa] doroteia ou carmelita, mas a Lúcia da infância”.
A intervenção foi feita a partir dos relatos de Lúcia de Jesus nas suas Memórias e “outros escritos, onde refere o que havia em cada divisão”.
Assim, os visitantes desta Casa-Museu, a pouco mais de dois quilómetros do santuário da Cova da Iria, encontram a residência de uma família rural dos finais do século XIX, início do século XX, com os quartos com mobília da época, a cozinha com os respetivos artefactos, uma sala com um tear e uma máquina de costura, a arrecadação com a arca para os cereais e, num anexo, a casa do forno.
Em cada divisão, são projetadas frases escritas pela Irmã Lúcia, a mais velha dos três pastorinhos que, em 1917, foram protagonistas dos acontecimentos de Fátima.
“Lúcia é uma figura incontornável de uma história globalizada desde a primeira hora”, pelo que “não é de estranhar que à sua volta se tenham criado narrativas que não correspondem à verdade”, disse o diretor do Museu do santuário, durante uma visita à casa dirigida aos órgãos de comunicação social, a anteceder a inauguração oficial das obras, agendada para o final da tarde de quinta-feira.
Para evitar incorreções, toda a intervenção foi sustentada em documentos escritos.
Marco Daniel Duarte sublinhou que o trabalho foi pluridisciplinar, acrescentando que também a casa dos santos Francisco e Jacinta Marto – primos de Lúcia -, a 200 metros de distância, vai ser objeto de restauro e de intervenção museológica.
A casa onde Lúcia de Jesus nasceu e viveu nos seus primeiros anos de vida com os seus pais e irmãos foi palco dos primeiros interrogatórios aos videntes.
A reabertura da Casa-Museu da Irmã Lúcia ocorre em plena semana do curso de verão deste ano do Santuário de Fátima, que tem como tema “Lúcia de Jesus: de criança anónima a figura maior do catolicismo contemporâneo”.
Nesta edição, pretende-se aprofundar a biografia e o contexto histórico em que viveu a vidente de Fátima, com especial foco para as instituições religiosas a que pertenceu.
Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, Marco Daniel Duarte, António Araújo, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Manuela Mendonça, da Academia Portuguesa da História, e a Irmã Ângela Coelho, vice-postuladora da Causa de Canonização da Irmã Lúcia, são alguns dos palestrantes neste curso dirigido a quem pretende estudar o fenómeno de Fátima.
No dia 13, assinala-se o primeiro aniversário da leitura do decreto que proclama as “virtudes heroicas” da Irmã Lúcia, cuja promulgação foi autorizada pelo Papa Francisco em 22 de junho de 2023.
A promulgação deste decreto, lido em Fátima pelo bispo de Coimbra, Virgílio Antunes, “abre caminho à beatificação da irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado (…), figura central no conhecimento e divulgação da Mensagem dirigida à humanidade por Nossa Senhora nas Aparições na Cova da Iria, em 1917, faltando agora um milagre”.
A Irmã Lúcia, a mais velha dos três videntes de Fátima, é considerada pelos responsáveis do santuário da Cova da Iria como “figura central no conhecimento e divulgação da Mensagem dirigida à humanidade por Nossa Senhora nas Aparições”, em 1917.
Lúcia de Jesus nasceu em 28 de março de 1907, em Fátima. Após a morte dos primos – os santos Francisco e Jacinta Marto -, Lúcia ingressou no Instituto das Irmãs de Santa Doroteia em 1925, onde permaneceu até 1948.
O seu percurso como Religiosa Doroteia foi maioritariamente vivido em Espanha, onde teve as duas aparições que completam o ciclo da mensagem de Fátima, com os pedidos da Devoção dos Primeiros Sábados (1925), em Pontevedra, e da Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria (1929), em Tuy.
“Ainda durante este tempo, por ordem do Bispo de Leiria, escreve as suas primeiras Memórias, dando assim início a um dos meios através do qual divulgará a mensagem de Fátima: a sua obra escrita”, segundo as suas notas biográficas.
Entrou no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, a 25 de março de 1948, onde permaneceu até à sua morte, em 13 de fevereiro de 2005.