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E assim vai o nosso pobre mundo

A sede da Associação Cultural Pinhal D’El-Rei está instalada, desde 2007, numa casa centenária, cedida pela Câmara Municipal de Leiria, a que chamamos “Casa da Música”, onde procuramos difundir e divulgar a nossa cultura musical e as nossas tradições populares.

A Associação Pinhal D’El-Rei foi solicitada para, no dia 11 de julho, (uma quinta feira), receber um grupo de cerca de 50 alunos de uma escola da Marinha Grande, pelas 10 horas, na sua sede em Monte Real, situada na rua do Pelourinho, que se deslocava a Monte Real numa visita de estudo.

Pretendiam visitar a zona histórica, assim como a nossa sede, para verem a exposição dos instrumentos musicais tradicionais e serem confrontados com as respetivas explicações. Previa-se, também, a interpretação conjunta de uma ou duas músicas tradicionais.

Após a chegada, os alunos foram divididos em dois grupos. Enquanto uns foram conhecer os locais históricos da vila, os outros estiveram na nossa sede, onde participaram de uma forma admirável nas explicações sobre cada um dos instrumentos e cantaram connosco a nossa música tradicional.

Utilizámos unicamente como suporte musical o piano, o bandolim, o cavaquinho e a viola braguesa. Apenas som acústico instrumental, sem grande intensidade sonora, tendo tudo decorrido maravilhosamente bem.

Entretanto, pelas 11h30, veio o segundo grupo e, no decorrer da sessão, quando estávamos a meio da primeira música, fomos interrompidos bruscamente por dois guardas da GNR de Monte Redondo, que entrando pela nossa sede, (tínhamos a porta aberta) nos mandaram parar imediatamente com o que estávamos a fazer ou, então, seriam obrigados a proceder à respetiva autuação.

Para os membros da associação presentes, para as professoras e especialmente para os alunos foi uma cena bastante triste. As crianças acabaram por ser confrontadas com uma situação que deixo ao critério de cada um analisar.

O lamentável incidente ocorreu em resultado de um dos vizinhos ter decidido, como já é habitual, chamar as autoridades, porque se sentiu incomodado com o que ele denomina de “ruído excessivo”. E assim acabou tudo! As crianças foram para o autocarro e a visita de estudo teve um final infeliz e triste!
Mas alguém deve ter ficado agradado pela eficiência das autoridades a pugnarem pelo direito do cidadão à “tranquilidade e à paz”.

É claro que se tivéssemos pedido à Câmara uma licença de isenção de ruído, que custa perto de cem euros, já podíamos fazer barulho à vontade, isto em contraste com os espetáculos e outros eventos em plena via pública, servidos por potentes aparelhagens sonoras, o que não era de todo o caso. Mas a cultura é pobre e não tem dinheiro nem para mandar cantar um cego, quanto mais um grupo jovial de crianças.

A sede da Associação Cultural Pinhal D’El-Rei está instalada, desde 2007, numa casa centenária, cedida pela Câmara Municipal de Leiria, a que chamamos “Casa da Música”, onde procuramos difundir e divulgar a nossa cultura musical e as nossas tradições populares, mas onde não pode haver música, nem sequer poesia, nem de noite nem de dia.

A bem da cultura.

Vítor Damásio
Associação Cultural Pinhal D’El-Rei, Monte Real

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