Em meados do século passado, Portugal apresentava uma das maiores taxas de analfabetismo da Europa: cerca de 40% da população não sabia ler. Para contrariar esse cenário, o Estado Novo lançou a Campanha Nacional de Educação de Adultos e o Plano de Educação Popular, de que fazia parte uma coleção de livros de bolso. Tentava-se proporcionar a aquisição de conhecimentos e, também, doutrinar a população para a ideologia dominante.
Chama-se Coleção Educativa e é constituída por mais de uma centena de títulos. Os temas são tão diversos como a História da Pátria, Geografia, Agricultura, Educação Sanitária, Música, Educação Moral e Cívica, Desporto, Química, Eletricidade ou Imprensa.
É um conjunto precioso de documentos históricos que refletem a realidade de Portugal de então e também do pós-25 de Abril: os livros tinham uma página com uma citação de Salazar que, por ordem oficial durante a Revolução foi arrancada em muitos deles. Outros, politicamente mais óbvios, foram mesmo destruídos.
Entre o espólio do Museu Escolar de Marrazes (MEM) está a Coleção Educativa, que a partir do próximo ano letivo será integralmente digitalizada para ser disponibilizada online.
Esse serviço será feito no âmbito do protocolo “Memória Educativa Virtual: Digitalização e preservação do acervo do Museu Escolar de Marrazes”, estabelecido entre o museu, gerido pela União das Freguesias de Marrazes e da Barosa, e a Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) do Politécnico de Leiria.
“Individualmente é mais difícil chegarmos a públicos diversos. Esta é uma oportunidade de fazer diferente e de divulgar o que achamos que é mesmo importante”, afirma o presidente da União das Freguesias de Marrazes e Barosa, Paulo Clemente.
Para o diretor da ESECS, Pedro Morouço, o trabalho feito pelo MEM “é extraordinário e fundamental”: “A ESECS fica muito grata por poder contribuir e por podermos, em conjunto, disseminar tudo o que aqui está”, afirmou o responsável, que acreditar ser necessário dar “um passo de gigante” para levar mais longe a ação e a obra do MEM. Para já, cerca de 300 estudantes serão convidados a participar, tanto a nível académico como extracurricular.
“O projeto tem muito potencial. Gostava que todo o estudante da Licenciatura de Educação Básica tivesse proximidade a este projeto e que, de alguma maneira, contribuísse para o seu sucesso”, desejou Pedro Morouço, no arranque de uma parceria que não tem termo definido.
Criado em 1992 por duas professoras do 1ª ciclo e desde 2001 integrado na Rede Portuguesa de Museus, o MEM) tem um espólio que, calcula-se, supera os 60 mil peças, entre livros (do século XIX à atualidade), documentos, mobiliário, brinquedos e equipamentos como palmatórias, batas, microscópios e até orelhas de burro.
Parte desses documentos, sobretudo materiais impressos, como livros, documentos ou jornais, será tratado no âmbito do projeto “Memória Educativa Virtual: Digitalização e preservação do acervo do Museu Escolar de Marrazes”.