Para João Almeida é “uma responsabilidade” a Volta a Espanha começar em Portugal, com o melhor voltista nacional a defender que o ciclismo português está a viver o seu melhor momento e que há que aproveitar o ouro olímpico.
“É uma responsabilidade. Não há etapas muito duras que vão fazer [a diferença], que vão ser decisivas, há apenas o contrarrelógio. Portanto, acho que é mais uma [oportunidade] de desfrutar e aproveitar o apoio português que vamos ter”, declarou.
Em entrevista à agência Lusa, antes do arranque da 79.ª edição da Vuelta, que acontece hoje com um contrarrelógio de 12 quilómetros entre Lisboa e Oeiras, o português da UAE Emirates perspetivou a passagem na ‘sua’ terra, no domingo, e falou também sobre o facto de ser o primeiro português em décadas candidato à vitória na geral de uma grande Volta.
“Sem dúvida que é um orgulho, mas no fundo é igual. Acho que não vai mudar nada. Tento fazer o meu melhor e pronto”, assegurou, recusando comparações com Joaquim Agostinho: “acho que sucessores não existem. Vamos tendo corredores que conseguem disputar grandes voltas, corridas clássicas, etc.”.
No entanto, o ciclista da A-dos-Francos (Caldas da Rainha), que foi terceiro no Giro2023 e quarto no Tour2024 e na Vuelta2022, é mesmo o segundo melhor português de sempre em grandes Voltas, superado apenas pelo lendário Agostinho.
Agora, aos seus resultados, que muito têm impulsionado a modalidade, juntou-se um ouro olímpico, conquistado por Rui Oliveira e Iúri Leitão no Madison em Paris2024, com este último a tornar-se mesmo no primeiro desportista luso a somar duas medalhas na mesma edição dos Jogos, uma vez que também foi prata no omnium.
“Os Jogos Olímpicos vieram deixar aqui um foco que temos de aproveitar. E esperamos que seja bem aproveitado para o ciclismo português que tanto precisa de evoluir e de melhorar. Portanto, acho que temos aqui uma boa alavanca para isso”, apontou.
Almeida, de 26 anos, “estava em casa a ver” a prova de madison e ficou “muito orgulhoso” quando viu os dois compatriotas sagrarem-se campeões olímpicos, considerando que o ouro foi “muito merecido”.
“Dei-lhes os parabéns. Disse que mereciam. No fundo, já era meio expectável. Sei a capacidade deles e as qualidades. E sem dúvida que ainda há bastante margem de progressão. Portanto, acho que o futuro é brilhante e há que continuar a trabalhar como eles têm feito para ter os resultados que merecem”, completou.
Pela sua parte, na estrada, tem tentado “colocar ao máximo Portugal também no centro”. “Eu e todos, não é? E, depois, agora no ciclismo de pista essas medalhas também vieram deixar uma grande marca e acho que vai marcar a diferença”, previu.
Para o ciclista da UAE Emirates, que também é a equipa de Rui Oliveira, o ouro do duo vai trazer “mais investimentos” e “mais pessoas com conhecimento para o desporto”.
“Acho que mostra a qualidade que temos no ciclismo. Também as boas pessoas que temos no desporto. […] O ciclismo requer mais investimento. As bicicletas são caras. O desenvolvimento tecnológico também em termos de gerir todas as pessoas não é fácil. Todas as viagens, etc. É bastante logístico. Enquanto nos outros desportos acho que é tudo mais central. Um campo, uma pista [de atletismo], etc. Acho que o ciclismo nesse sentido é bastante diferente, requer ainda mais trabalho”, notou.
Depois da extraordinária prestação do ciclismo português em Paris2024, onde Nelson Oliveira também alcançou um diploma no contrarrelógio ao ser sétimo, Almeida confessa que “claramente” gostava de “lá ter estado”.
“Mas acho que estivemos brilhantes. Fomos bem representados. Pessoalmente, acho que foi melhor, para conseguir recuperar melhor do Tour e estar aqui na Vuelta. Portanto, certamente vou ter mais oportunidades no futuro”, destacou, assumindo que pretende estar em Los Angeles2028, embora ainda falte muito tempo e tenha “muito que pensar até lá”.
Ana Marques Gonçalves, da agência Lusa