Entre os benefícios e as desvantagens, o que está em causa para os alunos, escolas e aprendizagens na transição dos manuais escolares do papel para o digital? O REGIÃO DE LEIRIA foi tentar perceber os argumentos dos dois lados.
O caminho para a digitalização dos manuais escolares tem sido um processo com alguns anos de avanços e recuos. Com um projeto-piloto iniciado no ano letivo de 2020/2021, durante a pandemia de Covid-19, as opiniões continuam divididas quanto ao sucesso da adoção de ferramentas digitais.
Em meados de agosto, a Ordem dos Psicólogos divulgou um parecer favorável a um abordagem híbrida entre o digital e o papel, defendendo que esta é a melhor opção para a aprendizagem nos dias de hoje, onde a tecnologia está tão presente. Tablets ou computadores são “mais do que uma opção, uma realidade incontornável” e as escolas devem estar preparadas para lidar com estas novas dinâmicas e, por conseguinte, novas regras.
O parecer indica que o papel pode ser usado para atividades de leitura e compreensão escrita, enquanto o digital poderá ter mais vantagens para pesquisas, aprendizagens interativas ou acesso a informação atualizada.
Por último, a Ordem faz referência à Organização Mundial de Saúde e Academia Americana de Pediatria e a Associação Americana de Psicologia quando aconselha um máximo de uma hora por dia para crianças em idade pré-escolar, duas horas para crianças dos 6 aos 12 anos e duas a três horas para crianças a partir dos 12 anos.
Petição pede retrocesso
Por outro lado, há movimentos a pedir que se volte ao ensino como muitos de nós o conhecemos: manuais em papel.
A petição “Pelo regresso à utilização dos manuais em papel e utilização dos tablets e computadores como recurso de apoio”, lançada, em maio, na Assembleia Regional Legislativa da Região Autónoma dos Açores, pede a reavaliação da “atual estratégia de digitalização dos recursos educativos nas escolas açorianas”, com base “em preocupações e experiências observadas por alunos, pais e professores”.
Com quase três mil assinaturas, o documento explana desvantagens da abordagem digital, baseado também em testemunhos de alunos. Alguns exemplos:
“A maioria dos alunos revelou que preferiam não continuar a utilizar o tablet na sala de aula, alegando as seguintes desvantagens: é uma fonte de distração (alguns alunos reportaram que jogaram durante as aulas); dificuldade em escrever as respostas nas fichas de trabalho online, uma vez que têm de consultar o manual em simultâneo; manifesto receio de que os alunos desenvolvam uma maior dependência dos meios informáticos; crianças com necessidades educativas especiais não saberem manusear este tipo de material”.
Ainda assim, a petição refere alguns pontos positivos como o peso das mochilas que diminiu, a possibilidade de ter “mais recursos didáticos, ou o “acesso a informação para trabalhos de pesquisa”.
Projeto-piloto vai ser avaliado
O projeto-piloto dos manuais escolares digitais arrancou em plena pandemia e ainda não foi alvo de uma avaliação. O ministério da Educação decidiu, por isso, fazer um estudo desse impacto durante o ano letivo que agora começa. O objetivo é perceber se vale a pena continuar em 2025/2026.
Algumas escolas já reportaram, sobretudo, falta de condições técnicas como o acesso à internet para levar a cabo projetos nesta escala. Já os pais gostam do papel, de acordo com um levantamento divulgado pelo Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida.
Mais de quatro em cada cinco encarregados de educação estão insatisfeitos e defendem o fim da iniciativa. Em 2023/2024, de acordo com a Direção-Geral da Educação, os manuais digitais foram usados por 24.011 alunos, a maioria do 3.º ciclo (46,8%), seguido do 2.º ciclo (28,5%), secundário (16,3%) e 3.º e 4.º anos (8,4%). Participaram 103 escolas.
Ana Patrícia Cardoso