Assinar

Subscreva!

Newsletters RL

Saber mais

Cartas ao diretor

“Os Portugueses e a Participação Política”

O jornal “O Mensageiro” não publicou qualquer notícia sobre este colóquio, ou porque o seu diretor optasse por o não fazer, ou porque a censura lhe tivesse cortado o texto

Antigo Grémio, hoje Edifício Comendador

O REGIÃO DE LEIRIA de 9 de fevereiro de 1974, a escassos meses da Revolução dos Cravos, noticia na sua página 7 um colóquio promovido pela SEDES (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social) que teve lugar no dia 1 de fevereiro nas instalações do Grémio Literário e Recreativo de Leiria, à rua Machado dos Santos, num 2º andar do que é hoje um condomínio denominado de Comendador.

Nesse colóquio, levado a efeito pelo Núcleo de Leiria da Associação SEDES, teve os corredores pejados de público que não tiveram acesso ao salão completamente cheio, sendo intervenientes neste colóquio os drs. Francisco Sá Carneiro, Marcelo Rebelo de Sousa e Emílio Rui Vilar, que dissertaram sob o tema “Os Portugueses e a Participação Política”.

De registar que o jornal “O Mensageiro” não publicou qualquer notícia sobre este colóquio, ou porque o padre Lacerda, seu diretor, optasse por o não fazer, ou porque a censura lhe tivesse cortado o texto.

O colóquio, com extraordinária concorrência de interessados, vendo-se entre a assistência os intelectuais da cidade, foi presidido pelo dr. Tomás Oliveira Dias, recentemente falecido, pertencente à “ala liberal” na Assembleia da República, que fez uma breve resenha do espírito de abertura pública em que o colóquio seria realizado, e fez a apresentação dos orientadores.

O dr. Sá Carneiro fez um resumo-análise do que tem sido o movimento político no país, a partir de 1928 — referiu-se à constituição implantada em 1933 para a seguir lembrar que foi só em 1945 que começaram a aparecer as primeiras manifestações de oposição e mais tarde com a candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República — o regime alterou o sistema eleitoral para a escolha do Presidente da República. E em 1969 o governo acenou à participação, prometendo uma abertura em 4 anos que se não veio a verificar concluindo — “que devemos esperar?”

Falou depois o dr. Rui Vilar, afirmou que, em sua opinião, os partidos são ainda a única forma de participação organizada, o que na altura não acontecia a existência do partido único.

Falou depois o dr. Marcelo Rebelo de Sousa que debateu o caso da publicidade — ou informação industrializada —- referindo-se largamente ao monopólio dos órgãos de informação e, por último, ao exame prévio, ou censura.

A notícia refere ainda que se estabeleceu-se um largo debate em que intervieram vários dos assistentes e, “sempre com elegância e moderação”, foram feitas pertinentes perguntas com explicações válidas e bem definidas.

Este colóquio teve a grande virtude de vir sacudir, no início de 1974, certa apatia na cidade de Leiria sobre questões sociais e políticas, cidade que, no entanto, tinha um fortíssimo núcleo de personalidades na oposição como o dr. Vasco da Gama Fernandes, o dr. José Henriques Vareda, o dr. Joaquim da Rocha e Silva, entre outros.

Ricardo Charters d’Azevedo

Leiria

Deixar um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos relacionados

Subscreva!

Newsletters RL

Saber mais

Ao subscrever está a indicar que leu e compreendeu a nossa Política de Privacidade e Termos de uso.

Artigos de opinião relacionados