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Saúde

População de Castanheira de Pera sem médico de família há uma semana

Município acusa ULS de Coimbra de despojar a unidade de médicos. ULS esclarece que “nenhum médico escolheu trabalhar em Castanheira de Pera” no último concurso.

Segundo a ULS de Coimbra, o concelho de Castanheira de Pera não dispõe de médicos há vários anos Foto: CMCP

A população do concelho de Castanheira de Pera está sem médico de família desde segunda-feira, dia 9. A situação afeta os cerca de 2.700 utentes inscritos na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP), único serviço a prestar cuidados de saúde primários no concelho.

A situação motivou duras críticas por parte da Câmara de Castanheira de Pera, que acusa a Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra de despojar de médicos o centro de saúde.

Num comunicado divulgado esta quinta-feira, o município adianta não ter sido informado da interrupção do serviço de Medicina Geral e Familiar no concelho, e que foi o presidente do executivo a tomar a iniciativa de pedir esclarecimentos ao conselho de administração da ULS sobre a situação.

Lamentando não ter obtido qualquer resposta até à data, situação que afirma ser “inaceitável”, a autarquia refere ainda ter manifestado disponibilidade para colaborar numa solução que considera “urgente e inadiável”.

Destacando “as especificidades do território e da sua população”, o município alerta para a gravidade do problema face à “inexistência de outros serviços públicos ou privados na prestação alternativa ou complementar de cuidados de saúde primários”, à “distância geográfica e insuficiência ou ausência de redes transportes públicos regionais, que possibilitem o acesso a outros serviços de saúde” e ao “elevado índice de envelhecimento demográfico (cerca de cinco idosos por cada jovem)”.

A isto somam-se “as dificuldades de mobilidade, a baixa literacia e os parcos recursos económicos que evidenciam a elevada dependência na assistência à população idosa”, frisa a Câmara na mesma nota.

Ainda segundo a autarquia, três médicos recém-formados na especialidade de Medicina Geral e Familiar foram colocados temporariamente na UCSP de Castanheira de Pera em finais de abril, o que “permitiu colmatar as necessidades locais” de prestação de cuidados médicos. Estes profissionais acabaram, contudo, por ser transferidos para outras unidades de saúde da região, deixando a UCSP sem “quaisquer recursos médicos por tempo indeterminado”.

O município, que em março aprovou um regulamento de apoio à fixação de médicos no concelho, através da comparticipação de despesas com arrendamento de habitação, crédito à habitação, despesas correntes ou deslocações, reitera continuar “empenhado em criar as melhores condições possíveis para a fixação de médicos” e em “avaliar soluções complementares e/ou alternativas, abertas à eventual contratação de prestadores de serviços privados”.

“Nenhum médico de família escolheu trabalhar em Castanheira de Pera”, diz ULS

Em resposta à Lusa, a ULS de Coimbra explicou que contratou 17 novos médicos de família na última semana, “permitindo reduzir em mais de 50% o número de utentes sem médico de família na sua área de abrangência”.

“O concelho de Castanheira de Pera não dispõe de médico de família há vários anos”, adiantou a ULS, esclarecendo que, nos últimos meses, “foi possível, até conclusão do concurso, colocar temporariamente dois recém-especialistas no centro de saúde”, para “dar acesso a médico de família à população e também sensibilizar os jovens médicos para o território”.

A ULS fez saber que, “infelizmente, no último concurso, apesar de todos os esforços, nenhum médico de família escolheu trabalhar em Castanheira de Pera”, assegurando que “está a trabalhar ativamente para encontrar respostas” para o concelho “e para todos os utentes ainda sem acesso a médicos de família”.

Câmara “surpreendida” com informação dos utentes

O presidente da Câmara refuta, no entanto, algumas informações, afirmando que o concelho dispunha de dois clínicos “há algum tempo”. Sem poder precisar datas, refere que após a saída de um dos profissionais, manteve-se uma médica ao serviço, tendo sido colocados temporariamente três médicos para colmatar a sua saída, em abril passado.

Dos três, permaneceram dois até à passada sexta-feira, explica ao REGIÃO DE LEIRIA António Henriques.

“Nós sabíamos que eram médicos que poderiam não ficar e aquilo que nós fizemos, enquanto autarquia, foi ter reuniões com os três médicos e explicar-lhes as condições de que poderiam beneficiar” se optassem por ficar em Castanheira de Pera quando fosse lançado o concurso para contratação de recém-especialistas.

Na sexta-feira, porém, “fomos surpreendidos pelos utentes, não por comunicação da ULS de Coimbra, com a informação de que, a partir de segunda-feira desta semana, iríamos ficar sem médico de família”.

António Henriques adianta ter sido apenas contactado pela ULS de Coimbra esta quinta-feira à tarde, após divulgação do comunicado da autarquia.

“Não é da responsabilidade dos municípios a contratação de médicos de família, mas são os municípios que criam todos os instrumentos possíveis para complementar e tornar acessível a fixação de médicos nestes territórios”, acrescenta o responsável.

“A ULS acabou por pedir desculpa pelo facto de não ter contactado ninguém do município, mas a verdade é que nós continuamos sem médico de família para os nossos munícipes e é isso que nós temos que tentar resolver o mais rápido possível”, reitera.

Sem outras respostas no concelho, públicas ou privadas, os utentes que precisem de cuidados médicos têm de “recorrer a Figueiró dos Vinhos ou a Avelar, em Ansião”, nota António Henriques, destacando ainda a inexistência de transportes públicos para estes dois destinos.

Reconhecendo que o problema não é exclusivo de Castanheira de Pera, o autarca considera, no entanto, que a situação é, por estes motivos, “muito mais crítica”.

Quanto a soluções, António Henriques avança que a ULS informou estar em contacto com a Fundação do Avelar no “sentido de tentar colocar aqui um médico há tempo inteiro”, e que ele próprio facultou “o contacto de um médico que poderá ter disponibilidade para se deslocar para este território”.

(Notícia atualizada às 18h20 com declarações de António Henriques, presidente da Câmara de Castanheira de Pera)

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