A Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) revelou que está em análise a possibilidade de ser qualificada uma nova água mineral natural em Monte Real, processo lento e exigente que impossibilita estimar o levantamento da suspensão da atividade termal.
As termas de Monte Real, no concelho de Leiria, foram atingidas, em fevereiro de 2014, pelas cheias provocadas pela rutura dos diques do rio Lis e estão encerradas desde o verão de 2015.
Numa resposta escrita à agência Lusa, a DGEG explicou que o rio “saltou as margens, atingiu a unidade termal e provocou avultados prejuízos nos edifícios e no sistema aquífero de Monte Real”.
Segundo a DGEG, “à época, a exploração da água mineral natural – designada Monte Real – era feita de acordo com o plano de exploração aprovado” em 10 de setembro de 2013, “tendo por base dois furos (Monte Real 1 e RA1), e a água era usada exclusivamente para aproveitamento termal”.
“Mais tarde, a água de Monte Real foi, essencialmente, desestabilizada pelas obras de reconstrução dos edifícios do estabelecimento termal e do SPA, em especial pela estacaria que foi colocada”, precisou.
A DGEG especificou que “as estacas puseram em contacto a água proveniente de um outro aquífero existente, o do Sal-Gema, com a água de Monte Real (aquífero hidromineral)”, sendo que o primeiro “tinha características muito diferentes da água Monte Real”. As características hidroquímicas da água Monte Real que era a usada na atividade termal foram alteradas significativamente com este contacto.
“Desde 2014, a empresa efetuou várias diligências para tentar repor as características da água Monte Real, mas, passados cerca de quatro anos, constatou-se que tal não tinha sido possível”, referiu.
De acordo com a DGEG, para o levantamento da suspensão “é necessário obter água mineral natural com estabilidade físico-química”, isto é, com características que se mantenham no tempo.
“Apesar dos inúmeros trabalhos e esforços que a concessionária tem vindo a efetuar ao longo dos anos, ainda não se conseguiu obter água mineral natural com estabilidade físico-química, quer para as termas reiniciarem a exploração, quer mesmo para a realização do estudo médico-hidrológico da água de Santa Rita, razão pela qual a concessão se encontra em suspensão de exploração”, justificou.
A DGEG assinalou que, “atualmente, apenas se encontra em funcionamento o SPA, onde não é utilizada a água de nenhuma destas captações”, mas “água da rede, de consumo humano”.
Questionada sobre se há alguma expectativa de quando a suspensão da atividade termal vai ser levantada, a DGEG sustentou não ser possível avançar com uma data, pois a hipótese de ser qualificada uma nova água mineral natural distinta das do tipo Monte Real e Santa Rita “terá de ser demonstrada através de um programa de controlo analítico”.
A possibilidade implica, também, “uma nova adenda ao contrato, para a qualificação deste novo recurso, e, consequentemente, ser realizado um estudo médico-hidrológico para a definição das vocações terapêuticas desta nova água”, sendo que “estes procedimentos são lentos e bastante exigentes”.
A DGEG garantiu ainda que vai continuar “a fazer o acompanhamento de todos os trabalhos a realizar”, para se obter “água mineral natural que possa perspetivar a reentrada em exploração das termas de Monte Real, que constituem uma mais-valia para a economia local e nacional”.
As termas integram o espaço do Monte Real – Hotel, Termas e SPA (sob gestão da DHM – Discovery Hotel Management, marca hoteleira do fundo de ativos imobiliários turísticos Discovery Portugal Real Estate Fund).
A concessão hidrotermal é da ITMR – Indústria Termal de Monte Real, SA.
Fonte desta empresa disse à Lusa que ao longo dos últimos anos, em estreita colaboração com a DGEG, tem realizado trabalhos de investigação para “criar as condições necessárias à reativação termal”, tendo sido efetuadas “mais de 20 ações com trabalhos de prospeção e pesquisa, novas captações, alterações estruturais nas captações existentes e, inclusive, trabalhos de recuperação no balneário termal”.
“Até ao momento, todas estas iniciativas ainda não se relevaram suficientes”, referiu a mesma fonte.
Apontando como maior dificuldade as modificações hidrogeológicas que ocorreram e às quais a ITMR é totalmente alheia, a empresa explicou que, desde 2014, não consegue “captar água mineral natural com as características físico-químicas originais”, não obstante a realização de “prospeções e trabalhos complementares para encontrar recurso” com as mesmas características ou equivalentes.
A ITMR assegurou ainda que vai continuar a trabalhar com a DGEG “quer com novas captações, quer com análises físico-químicas, para conseguir retomar a atividade termal”, cuja suspensão acarreta prejuízos avultados, extensivos à atividade hoteleira associada.