O Governo anunciou esta semana a criação da Linha SNS Criança, que tem por objetivo desviar das urgências pediátricas os casos não urgentes, enviando-os para consultas nos centros de saúde.
Nos casos em que for atribuída uma pulseira verde (pouco urgentes), as crianças serão encaminhadas para a chamada “consulta aberta” para serem vistas em 24 horas.
Já os casos não urgentes (pulseira azul), deverão ser marcadas consultas nos cuidados de saúde primários em 48 horas, explicou o coordenador do grupo de trabalho que traçou o plano de reorganização das urgências de Pediatria e Ginecologia e Obstetrícia, citado pela agência Lusa.
Segundo sublinhou Alberto Caldas Afonso, nas urgências devem ser apenas vistos os casos encaminhados por outras unidades hospitalares, pelos assistentes ou pelo INEM.
Linha SNS Grávida
As grávidas terão, por sua vez, de ligar sempre para a Linha SNS Grávida (808 24 24 24) antes de recorrer à urgência de Ginecologia e Obstetrícia (UGO).
O novo plano recomenda ainda que a grávida que ligue para a Linha SNS 24 e seja triada com a pulseira verde deverá ser encaminhada para uma consulta aberta hospitalar em 24 horas.
Já a grávida que for triada com pulseira azul será enviada para uma consulta aberta nos cuidados de saúde primários no dia útil seguinte ou para uma consulta normal.
No caso de a grávida se dirigir pelo próprio pé à urgência, será aconselhada a ligar para a linha SNS 24. Caso não queira ligar, será observada por um enfermeiro especialista em enfermagem de saúde materna e obstétrica (EESMO), explicou Alberto Caldas Afonso.
Há ainda outras situações previstas no fluxograma que preveem o reencaminhamento direto para a UGO, nomeadamente se a grávida tiver uma carta do médico ou de um enfermeiro especialista, for reencaminhada por uma emergência pré-hospitalar ou se correr risco de vida.
Segundo Caldas Afonso, todos os enfermeiros que estão a fazer o atendimento na Linha SNS 24 fazem uma “formação robusta” obrigatória para a triagem e para o fluxograma.
45
O coordenador do plano salientou que é preciso retirar das urgências obstétricas cerca de 45 a 50% das situações que não são consideradas urgentes e que estão a condicionar os recursos humanos. “São situações muito simples (…) que vão consumir recursos humanos mais diferenciados que têm que estar vocacionados para aquilo que é a missão daquela unidade, dar a melhor assistência a quem vai ter o seu filho”, comentou
Projeto-piloto no Oeste
A Linha SNS Criança deverá ser lançada a curto prazo, não dependendo do plano de reorganização das urgências que irá arrancar como projeto-piloto na região Oeste, Lisboa e Vale do Tejo e Península de Setúbal, antes de ser alargado a todo o país.
Na apresentação do plano, na terça-feira, Alberto Caldas Afonso lembrou que a intenção é deixar de ter urgências rotativas, sublinhando que “as pessoas têm direito a estar informadas e o que está aberto no dia 1 de janeiro deve estar sempre aberto”.
O responsável falou numa “mudança de paradigma” nas urgências de Pediatria e Ginecologia e Obstetrícia, lembrando que é preciso aumentar a literacia e transmitir a informação correta aos portugueses, que “têm de saber dirigir-se ao local apropriado para a necessidade assistencial que tem naquele momento”.
O também presidente da Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente disse ainda que o grupo de trabalho teve o cuidado de “partilhar as propostas com todos os conselhos de administração das Unidades Locais de Saúde”, envolvendo diretores dos serviços de Pediatria e Ginecologia e Obstetrícia e dando-lhes tempo para receber as suas sugestões e comentários para melhorar a proposta.
“Pura propaganda”
A Federação Nacional dos Médicos (Fnam) já reagiu ao plano, que considera de “pura propaganda”, por não prever como irá ser feito o reforço de recursos.
Em declarações à Lusa, a presidente da Fnam, Joana Bordalo e Sá, considerou tratar-se de “um plano vazio” que “não vai resolver os problemas do SNS [Serviço Nacional de Saúde]. Não passa de pura propaganda”.
Para a dirigente, o Ministério da Saúde quer “ter um SNS na área materna, infantil e pediátrica refém de linhas telefónicas em substituição do atendimento presencial”, o que degrada a qualidade do serviço. “No caso das crianças, eles dizem que, se forem situações menos graves, remetem para os centros de saúde, onde nós sabemos que as agendas estão cheias e onde há falta de médicos”, acrescentou.
“Não explicam depois como é que as equipas têm mais médicos, seja a nível dos centros de saúde para receberem os utentes, nem como é que a nível hospitalar, ao nível das urgências, as equipas são reforçadas”, acusou a dirigente.