“Libertação” é a mais recente obra do escultor Thierry Ferreira e nasceu no âmbito do Simpósio Internacional de Escultura de Sprimont, na Bélgica, realizado entre agosto e setembro.
O escultor de Alcobaça, um dos 12 internacionais presentes no evento, que decorreu no Centro de Interpretação da Pedra de Sprimont, decidiu projetar na obra “a amizade duradora entre Portugal e Bélgica, representando o legado humano”, resultado da “significativa presença de portugueses na cultura e economia belgas desde os anos 60”.
Segundo o próprio, “Libertação” é composta por um bloco bruto dividido em três partes horizontais, sendo que a pedra trabalhada tem cerca de 350 milhões de anos e foi extraída de uma pedreira local. “Desenvolvi uma escultura que explora a liberdade como um conceito intemporal, gravado na própria matéria da rocha”, explica Thierry Ferreira.
“A formação lenta da rocha, sob intensas pressões ao longo de milhões de anos, convida-nos a refletir sobre o tempo e a paciência necessários para atingir a plena liberdade. As três formas geométricas polidas representam o legado que as comunidades deixam às gerações futuras, fruto de um processo coletivo de construção de liberdade e fraternidade”, descreve o próprio.
O destino da escultura está ainda a ser discutido com instituições portuguesas em Bruxelas.
A residência artística na Bélgica “foi profundamente enriquecedora, a nível artístico, humano, cultural e social”, realça o artista que, a partir desta experiência, trouxe para Portugal e para a região três ideias.
A primeira tem a ver com o Centro de Interpretação da Pedra em Sprimont, que “possui uma coleção impressionante, abrangendo áreas como geologia, arqueologia, extração de pedra e escultura”. “Considero que, dada a importância histórica da nossa região, seria pertinente criarmos uma infraestrutura semelhante na região Centro de Portugal”.
Na Bélgica, o artista acompanhou um programa de reabilitação de jovens envolvidos em crimes graves, que participaram na criação de uma escultura de grande escala, destinada à cidade de Liège. “A evolução dos trabalhos demonstrou o impacto positivo desta experiência nos jovens. Acredito firmemente no poder transformador da arte e na sua capacidade de marcar vidas de forma decisiva, o que reforça a importância de uma abordagem mais profunda e abrangente às atividades artísticas”, nota Thierry Ferreira.
Por fim, e diretamente relacionado com a obra que desenvolveu, o escultor percebeu a forte presença da comunidade portuguesa em diversas partes da Bélgica. “Tive o prazer de conhecer vários portugueses, residentes na Bélgica há muitos anos, que são respeitados e integrados nas atividades culturais e económicas locais. Este forte vínculo com Portugal, aliado a uma perspetiva enriquecida por novas experiências, representa um enorme potencial que devemos valorizar e saber escutar”, conclui.