O Ministério Público (MP) de Leiria acusou 10 arguidos de vários crimes num processo relativo a burlas “olá pai, olá mãe” que lesou 41 pessoas numa quantia superior a 100 mil euros, foi hoje anunciado.
“O MP no Departamento de Investigação e Ação Penal de Leiria deduziu acusação em processo comum e perante o tribunal coletivo contra 10 arguidos, imputando-lhes a prática, em autoria material e em concurso efetivo, de diversos ilícitos criminais”, revelou a Procuradoria da República da Comarca de Leiria.
Segundo a mesma fonte, a três dos arguidos “atribuiu a perpetração de um crime de burla qualificada e de um crime de associação criminosa”, sendo que a outros quatro arguidos “imputou um crime de especulação”.
“Responsabilizou ainda três sociedades arguidas pelo cometimento do crime de especulação”, referiu.
A Procuradoria esclareceu que “foram lesadas 41 pessoas, tendo sido alcançado um montante global fixado em 109.325,60 euros, decorrente da prática da burla comummente conhecida como ‘olá pai, olá mãe’ ou ‘falso familiar’”.
Um dos arguidos continua detido preventivamente.
O inquérito foi declarado de especial complexidade, tendo o MP sido coadjuvado na investigação pelo Departamento de Investigação Criminal de Leiria da PJ.
Em 17 de novembro de 2023, a PJ deteve em Lisboa um homem, então com 41 anos, suspeito do crime de burla qualificada através do WhatsApp, usando as expressões “olá pai, olá mãe”, tendo apreendido milhares de cartões de telemóvel SIM.
Em comunicado divulgado na ocasião, a PJ referiu que “foi dado cumprimento a um mandado de busca domiciliária e detido, em flagrante delito, um cidadão estrangeiro, pela prática do crime de burla qualificada”.
“Foram apreendidos sete ‘modems’ que acoplavam 32 cartões SIM por aparelho, significando que operavam 224 cartões em simultâneo. Esta operabilidade permitia a remessa/receção de mensagens, originando que num dia pudessem ser enviados milhares de mensagens, com os argumentos conhecidos por ‘olá pai, olá mãe’”, esclareceu então a PJ.
De acordo com esta força policial, “o suspeito interagia com terceiros, em rede, podendo efetuar esquemas do género no território nacional, bem como noutros países”, adiantando que “a investigação identificou o uso massivo de cartões, concretizável no facto de terem sido apreendidos milhares de cartões, mais de sete mil cartões por utilizar e mais de mil e quinhentos já utilizados em práticas delituosas”.
“As vítimas, muitas delas pessoas de idade avançada, acreditando que estavam a falar com os filhos e que estes se encontram em dificuldades financeiras e/ou a necessitar de concretizar pagamentos urgentes, dispunham-se, de imediato, a efetuar uma transferência/pagamento cujos valores variavam, mas que, nalguns casos, ascenderam a milhares de euros”, assinalou ainda o comunicado da PJ.
A Polícia Judiciária notou ainda que, “em termos investigatórios, foram estabelecidas coincidências entre inquéritos e notou-se um uso, bastante acentuado, de números de telemóveis, irrepetíveis, de operadoras nacionais, para a prática deste tipo de ilícito”, o que desencadeou “alertas e obrigou ao recurso a meios especiais de obtenção de prova”.
O comunicado da PJ assinalou também que “existiam, à data, muitas dúvidas sobre a forma de atuação e como conseguiam efetuar tantos pedidos de dinheiro, via plataforma WhatsApp, para depois alcançarem os seus intentos, um enriquecimento indevido e ilícito”, mas, “após várias diligências”, o suspeito foi detido.
Fonte da PJ disse na ocasião à Lusa que “a investigação iniciou em setembro [de 2023], mas a atividade do suspeito começou meses antes”, destacando que este dedicava-se, de forma “plena e absoluta, à atividade criminosa”.