Passei a primeira parte da infância em terrenos, hoje ocupados por esta unidade da Força Aérea que deu já efetivos importantes, nomeadamente, para a nossa última guerra de África. Entre eles, o coronel Galvão de Melo, escolhido para comandar a BA9, em Luanda, pouco depois do início da atividade armada dos movimentos insurrecionais de 1961, em Angola.
Filas de quilómetros de carros e milhares de pessoas acorreram no passado 15 de julho, numa romaria, e à semelhança de anos anteriores – Dia da Base Aberta -, para ver de perto, “apalpar”, os instrumentos bélicos ali patentes e pagos, afinal, pelos seus impostos. Com destaque, obviamente, para os badalados e já não muito recentes F16.
O cidadão comum, seduzido pelo “voyeurismo” eufórico destas coisas velozes que andam pelos céus, talvez não se aperceba, no entanto, da importância, no todo nacional, de que é a principal base aérea operacional portuguesa, situada no centro do país e a escassos quilómetros do Atlântico, no lugar da Serra de Porto de Urso (Monte Real).
Equipada designadamente com aqueles aviões de combate, cabe-lhe decerto no contexto da salvaguarda dos interesses nacionais, zelar pela defesa do nosso espaço aéreo, pelo respeito dos estranhos pela Zona Económica Exclusiva portuguesa, colaborar na afirmação da soberania nacional no triângulo continente, Madeira e Açores.
E, de igual modo, dentro das organizações multinacionais de que Portugal faz parte, assegurar, na sua zona de ação, a vigilância das rotas marítimas que correm ao longo da nossa costa para abastecer a Europa e demais missões específicas da segurança coletiva.
Será, por isso, que as populações limítrofes aceitam de boamente a sua presença, apesar das centenas de expropriações, para o efeito, de pequenas parcelas de florestas privadas na década 50 quando, a escassos metros, o Estado tinha milhares de hectares do Pinhal de Leiria mantido, porém, intocável (exceto pelos fogos recentes, muito mal controlados, de anos atrás).
E suportam continuamente, dia e noite, entre outras a poluição sonora arrepiante dos F16 nas suas casas e vidas, sem qualquer contrapartida de mitigação desses incómodos pelos poderes públicos que, aliás, moram longe. Para mais, sem grandes benefícios económicos locais dessa presença, ainda que cordata.
Mas esperam, no mínimo, que o dinheiro dos seus impostos afeto a este desígnio essencial de segurança nacional seja usado, com rigor, sem desperdícios ou despesas sumptuárias, com transparências, por profissionais auto-exigentes, discretos, patriotas e cumpridores dos deveres militares para com o país.
Joaquim Heleno
Serra de Porto de Urso, Monte Real