Um livro sobre o restauro do Mosteiro da Batalha no século XIX é lançado hoje em Lisboa com objetivo de projetar, em Portugal e no estrangeiro, a importância de Luís Mouzinho de Albuquerque (1792-1846) no contexto do restauro monumental.
“Luís Mousinho de Albuquerque e o restauro do Mosteiro da Batalha no Século XIX”, de Clara Moura Soares, assinala 170 anos passados sobre a edição de um livro deixado por aquele que foi responsável pelo restauro do monumento entre 1840-1843.
A publicação bilingue, que manteve a grafia original do nome, é apresentada hoje e inclui um fac-símile desse original, acompanhado por introdução crítica da autora, ambos traduzidos para inglês.
“É uma publicação singela, mas, sobretudo, é um documento muito importante para a história e teoria do restauro em Portugal”, explicou à agência Lusa Clara Moura Soares, sobre a relevância da obra de Mouzinho de Albuquerque, lançada após a sua morte.
A atual reedição recorda o “plano de intervenção e de restauro muito cuidado e muito argumentado”, num documento que para a autora, que dirige a Licenciatura de História de Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, se trata de “uma memória inédita” onde o autor “narra toda a sua experiência desafiante sobre o restauro do Mosteiro da Batalha”.
“Não há nenhum documento do género, nem Portugal, nem, que eu conheça, também lá fora”, afirmou.
A ação de Luís Mouzinho de Albuquerque sobressai porque “o restauro do Mosteiro da Batalha é o primeiro caso de restauro monumental em Portugal”.
Após o exílio em França, onde terá contactado “com o que tinham sido as iniciativas inovadoras no contexto francês”, Albuquerque assume a coordenação do restauro de um edifício relevante, “numa terra que lhe dizia muito”, devido a ligações familiares à Batalha.
O monumento, um convento dominicano até 1834, estava muito degradado, na sequência de um processo de decadência acelerado com o fim das ordens religiosas. Mouzinho de Albuquerque recorre então ao levantamento gráfico realizado pelo arquiteto irlandês James Murphy, que “vem a Portugal no final do século XVIII com a missão de conhecer as origens do estilo gótico, para a compreensão do neogótico em Inglaterra”.
Murphy desenha o edifício “com todo o detalhe”, imaginando até como seria o mosteiro previamente à destruição causada pelo terramoto de 1755.
Esse álbum revelou-se “uma base de trabalho fundamental para Mouzinho de Albuquerque”. Para Clara Moura Soares, a edição do irlandês terá sido mesmo “um dos argumentos que justificou que a Batalha fosse o primeiro caso de restauro monumental em Portugal”, campanha que se estendeu ao longo de todo o século XIX, até aos primeiros anos do século XX.
“São largas décadas de intervenção no edifício, onde se procura, como acontecia também em França, à luz do que designamos teoria da Unidade de Estilo, recuperar a imagem perdida, a imagem original, a imagem gótica do edifício, eliminando tudo o que pertencia a outras épocas”, acrescentou a investigadora.
O engenheiro militar português foi, por isso, fundamental para a salvaguarda e recuperação do Mosteiro da Batalha, monumento nacional desde 1907, inscrito na lista do Património Mundial da UNESCO em 1983.
“Pelo trabalho que teve, pelo pioneirismo da sua obra, pela visão que teve para o restauro do monumento, Mouzinho de Albuquerque merece ter um papel mais reconhecido internacionalmente” e isso contribuiu para a decisão de fazer uma obra bilingue, “para que os especialistas internacionais possam começar a ter contacto com este nome e com este grande projeto”, concluiu Clara Moura Soares.
Luís Mouzinho de Albuquerque nasceu em Lisboa, em 1792, formou-se em Matemática na Academia Real da Marinha, tendo depois optado por trabalhar na agricultura, no Fundão, “para ganhar mais algum dinheiro e poder casar convenientemente”, como se lê na biografia patente no ‘site’ do Mosteiro da Batalha.
Viveu em Paris entre 1820 e 1823, tendo regressado a Portugal onde desenvolveu vários trabalhos na área da investigação científica, que foram interrompidos pela Guerra Civil de 1832.
“O estado calamitoso das comunicações do país tornou-se desde 1836 a sua maior preocupação, tendo feito aprovar contratos referentes a obras de necessidade indiscutível, como os referentes à estrada de Lisboa ao Porto e às pontes de Sacavém e pênsil do Porto. Entre 1840 e 1842 estudou a situação geral do país e participou na constituição da Sociedade Promotora da Construção, Conservação e Aperfeiçoamento das Comunicações do Reino”, indica a biografia disponível no dicionário do Centro Interuniversitário da História das Ciências e da Tecnologia.
Ao longo da vida desempenhou várias funções de topo, incluindo as de ministro do reino, da justiça e da marinha, tendo lutado ao lado dos liberais durante a Guerra Civil. Morreu na batalha de Torres Vedras, em 1846.
O livro “Luís Mousinho de Albuquerque e o restauro do Mosteiro da Batalha no Século XIX” é apresentado na Sala do Átrio da Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, hoje, a partir das 17h30.