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Um dia…. na urgência de Leiria

“E assim vais esperando e desesperando. E ao teu redor? Pessoas dormem em cadeirões ou nas macas que se vão acumulando”, relata um leitor após passar 24 horas nas urgências do hospital de Leiria.

Tantas vezes ouves ou lês notícias sobre o caos que vai nas urgências em Portugal. Sabes que nada podes fazer, só pensas para ti: espero que nunca tenha de passar por uma situação destas ou alguém dos teus.

Desejas, para o bem de todos, que a solução seja encontrada rapidamente. E se a juntar a isso tens mesmo de ir à urgência e és doente oncológica, com o sistema imunitário debilitado?

Queres saber a minha aventura? Podias ser tu! Será que todos juntos não conseguimos fazer nada?

Imagina que tens um cateter interno para ser administrada a quimioterapia. E que num sábado, por volta das 15h30, começas a ter dores acima do cateter, na clavícula e no ombro esquerdo. A dor vai aumentando de intensidade. Às 19h30 tomas um paracetamol, que nada faz. Ligas para a saúde 24, esperas um pouco mais do que o tempo que anunciam. A chamada entre esperar e ocorrência dura 19 minutos. Solução, tens de passar pela urgência do Hospital de Leiria. Pensas que até deve correr bem, estão todos a ligar para a saúde 24, só vai quem precisa. Verdade! Triagem: pulseira amarela. 21h02. Até ficas num sítio mais isolado enquanto esperas, afinal és doente oncológica com sistema imunitário fragilizado.

Tanta gente a entrar. Muitos, pulseira laranja e outros tantos pulseira amarela. Tabelas de tempo de espera dizem que tens cerca de 30 pulseiras amarelas em espera e cerca de 2horas… a 3h52 minutos de tempo de espera entre a triagem e a consulta. A dor que tinhas vai-se intensificando. Tanto que que se torna insuportável.

Falas com os enfermeiros, 5 estrelas, que fazem “trinta por uma linha” e lá conseguem a pré-avaliação para prescrição do analgésico por volta da meia-noite. Nessa altura, já te encontras na parte da urgência amarela, onde tanta gente se encontra, tantas doenças e tu sem teres um isolamento adequado.

O analgésico não é suficiente. Lá para as duas da manhã és vista pela primeira vez por uma médica que, a correr faz umas perguntas. São 12h17 e nunca mais ouviste seja o que for sobre a tua situação. Tiraram sangue para análises e mais medicação para a dor, por volta das 2h30 da manhã. Às 12h20, um profissional simpático avalia a tua situação, esclarece o que esperar. Uma reavaliação haverá de ser feita, mas não sabe quando, pois a urgência amarela está sem médico. Entretanto haverão de vir da urgência verde para avaliar as situações novas. Não as reavaliações.

E assim vais esperando e desesperando. E ao teu redor? Pessoas dormem em cadeirões ou nas macas que se vão acumulando. Uns choram, um que diz que está desde a meia-noite sem ser avaliado por um médico, pelo menos presencialmente. Faltam os recursos médicos. Todos os que nos dão apoio, são sempre muito profissionais e prestáveis.

Turno das 16 horas de domingo: muda a equipa de profissionais, auxiliares, enfermeiros e vem uma equipa de médicos. Começas a ver as coisas a mexer. Finalmente! Ainda assim devagar, face ao que acumulou da noite, da manhã e aos que vão chegando.

Ainda assim há que elogiar as equipas. A paciência, a humanidade incrível! Com um sorriso nos lábios ou com uma palavra amiga, uma explicação. Quase a fazer 24 horas de cá estar. Já foste atendida, já sabes mais ou menos as diretrizes a seguir. Assim se passou um dia, de 24 horas… nas Urgências do Hospital de Leiria. Há que refletir e tomar medidas. Não é política, não é de apontar o dedo ao que aquele partido fez melhor que o outro ou de quem é a culpa. Tem de haver respeito por todos e planeamento em equipa, todos para um mesmo fim! Assim se conseguirá alcançar um objetivo, para o bem de todos. Lembram-se dos tempos de Covid-19? Difícil! Todos trabalharam para um objetivo. Sucesso!

Leitor devidamente identificado
Leiria

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