Em 2025 o Leirena Teatro vai trabalhar no Brasil, acolher um grupo da Palestina, criar um espetáculo com estruturas nacionais, de Espanha e da Finlândia e uma peça inspirada nos muros de pedra seca da região. “Vai ser o ano mais desafiante de sempre”, revelou o diretor da estrutura, Frédéric da Cruz Pires, ontem, dia 27 de janeiro, na apresentação da programação para este ano.
No Juncal, concelho de Porto de Mós, um dos vários municípios da região e do país onde a companhia desenvolve atividade, o Leirena revelou o que tem previsto para 2025, no arranque de mais um ciclo de dois anos em que a companhia garantiu apoio da Direção-Geral das Artes para criação e ações estratégicas de mediação.
“Vai ser um ano forte: se fizermos as contas, todos os fins de semana estão [preenchidos] com atividades”, disse na Real Factory do Juncal Frédéric da Cruz Pires, para quem a exigência é acompanhada por ambição:
“Daqui a dois anos vamos tentar ir para outro nível, dos [apoios] quadrianuais [da DGArtes], com outro valor e ter mais profissionais connosco”.
Depois de em 2024 ter trabalhado pela primeira vez no estrangeiro, levando o projeto de teatro e comunidade Colmeia à Arábia Saudita, o Leirena aposta forte nas ligações com o estrangeiro este ano.
Nas duas últimas semanas de fevereiro a companhia de Leiria vai ao Brasil contactar com as comunidades indígenas do Paraná e de Santa Catarina, em parceria com a organização ArpinSul – Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul, que apoia as tribos do sul do Brasil.
A par da preparação da nova produção, intitulada “Iks – O povo da montanha” e inspirada numa tribo do Uganda, a companhia portuguesa desenvolverá espetáculos comunitários com a população local.
“É fundamental ir para o Brasil estar lá com uma tribo; o espetáculo precisa que tenhamos essa interioridade e conviver com as comunidades locais”, explicou o diretor. O Leirena contava levar esta produção à Guiné-Bissau, mas não foi possível.
O espetáculo estreia no dia 16 de maio no Teatro Diogo Bernardes, em Ponte de Lima, seguindo para a Marinha Grande, Covilhã e Setúbal.
As ligações com estruturas teatrais estrangeiras estendem-se à Palestina, com a presença em Portugal, em julho, da companhia Ashtar Teatro, para o festival Novos Ventos, em Leiria.
“É uma questão de teatro de intervenção, dado o que está a acontecer [na Palestina]. É com o apoio da embaixada e o nosso objetivo era também desenvolver um projeto na Palestina, mas não se proporcionou. Vamos ver se para o ano é possível, com outra segurança”, afirmou Frédéric da Cruz Pires.
Os cruzamentos estendem-se a outra das novas produções previstas para 2025, “Conversas com formigas”.
Liderado pelo Teatromosca, do Cacém, o exercício de cocriação envolve o Leirena, o Colectivo Glovo, de Espanha, e a companhia de dança Kekäläinen & Company.
“Em termos de trabalho, este é o ano mais desafiante de sempre”, frisou o responsável da companhia, que vai reforçar a equipa para responder ao desafio.
O Leirena Teatro tem seis pessoas a tempo inteiro e 24 envolvidas noutros projetos com vínculos diversos.
“Estamos a reavaliar o modelo de trabalho. Queremos tornar melhor a casa, avaliar a forma como os projetos são implementados, mas também proteger o artista, para usufruir da vida, descansar e estar com os seus”.
Ainda em 2025, o Leirena vai criar uma peça a partir dos muros de pedra seca que existem em Porto de Mós, Ansião e Pombal, no distrito de Leiria, envolvendo as comunidades num espetáculo original: “Muros que unem”.
Ao longo do ano o projeto de residência com a comunidade em espaços edificados e naturais Estações Efémeras chega a Penafiel, Batalha e Figueiró dos Vinhos, enquanto Colmeia vai a Alvaiázere, Pombal, Marinha Grande e Figueiró dos Vinhos.
A programação contempla também o festival Novos Ventos em freguesias do concelho de Leiria, o festival de Teatro de Rua de Porto de Mós e Clim’Arte, que visa a intervenção ambiental em 15 escolas do concelho de Leiria.
Os espetáculos “Playground”, “Sob a terra” e “A maior flor do mundo” terão digressões por vários municípios nacionais.
Arte e Autismo, Manufatura, Via Sacra de Porto de Mós e o ensino de teatro a adultos e jovens são outras atividades previstas pelo Leirena Teatro para 2025.
“Projeto com muito futuro”
Vários autarcas da região onde o Leirena desenvolve trabalho com as comunidades marcaram presença na Real Factory. O presidente da Câmara de Porto de Mós assumiu que a companhia de Leiria é “o principal parceiro para a Cultura” do município, ali desenvolvendo há vários anos o festival de Teatro de Rua e a Via Sacra.
Uma aposta que Jorge Vala assumiu pelo envolvimento com as populações que está no centro do trabalho do Leirena.
“A cultura é o principal veículo para a coesão, quer territorial quer social”, defendeu o autarca, para quem a parceria com estruturas como a companhia de teatro de Leiria “só faz sentido se a comunidade estiver envolvida”.
Já a vereadora da Cultura de Leiria, Anabela Graça, enalteceu o crescimento que o grupo tem tido, considerando que “o Leirena aproveitou essa oportunidade da candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura”.
“Tem uma fórmula que resulta de muito trabalho e, acima de tudo, muita criatividade, já com sustentabilidade”, que está presente em vários municípios da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria “e já saltou fronteiras”.
Anabela Graça lembrou também o investimento da companhia no envolvimento com as comunidades e “na cultura acessível para todos”, com a disponibilização de soluções para pessoas com necessidades especiais. “São valores que fazem parte da genética do Leirena” e que estão a contribuir “para estarmos a ter mais pessoas a aderir ao teatro, porque este projeto faz com que as pessoas participem nele”.
A vereadora salientou ainda a ação de descentralização do grupo:
“O Leirena não está na cidade [de Leiria], está no concelho. Cada vez mais a cultura tem de ser isto: para todos e não uma cultura urbana. É um projeto com muito futuro”, concluiu.