Música pela cidade, um artista que pinta o próprio corpo durante horas, uma peça feita instalação teatral, palcos alternativos (também fora de Leiria) e até um exercício autobiográfico sobre a experiência da hemodiálise. Sinopse – Festival Ator João Moital está de volta entre 1 de 30 de março, refletindo a nova atitude do Te-Ato – Grupo de Teatro de Leiria.
“O Sinopse deixou de ser visto pela comunidade artística como um mero festival de teatro e passou a começar a olhado como uma montra de artes performativas”, explica João Lázaro, fundador e diretor do Te-Ato. Mantendo o espírito de sempre, esta edição vai mais longe, tanto geograficamente – pela primeira vez sai de Leiria, com duas propostas na Batalha – como conceptualmente, nas propostas e escolha dos locais.
“Queremos tentar surpreender as pessoas. Todas as manifestações artísticas são passíveis de ser enquadradas, neste momento, neste festival”, sublinha Lázaro.
Assim se faz a programação deste 12º Sinopse a partir deste sábado, olhando também para “um conjunto de visões periféricas das novas arquiteturas sociais”, nota o diretor da companhia. “Preocupa-nos particularmente a integração cultural dos imigrantes. Sabemos muito pouco sobre eles e eles sabem muito pouco sobre nós”, repara João Lázaro, assumindo inquietação com o discurso “da extrema direita e dos populistas – e até dos menos populistas”, que “começam a dizer que eles têm de se adaptar à nossa cultura”:
“Isto é colonialismo. Não temos de nos adaptar, temos é de coabitar na cultura uns dos outros”. Por isso, o festival do Te-Ato quer estar atento à realidade, “para que ela não nos ultrapasse, senão qualquer dia ficamos do lado errado da História”.
Para abarcar uma diversidade crescente, a companhia reorganizou-se internamente, separando gestão e direção artística para se assumir como “um polo de difusão cultural” e não, como em quase todo o percurso de quase 50 anos, unicamente teatral. A mudança reflete-se na programação própria, que tem no Sinopse o seu pináculo, mas também no acolhimento no seu palco de diversas formas de arte.
Vem daí a pluralidade, “com coisas atrevidas ou inusitadas”, que se identifica neste Sinopse, onde há estreias anunciadas: a peça encenada e interpretada pelo próprio João Lázaro, escrita pela filha Ana Lázaro, “Amanhecer em Berlim”, em que “estamos a arriscar e depois vamos ver o que acontece”. Ou a leitura encenada pelo ator e referência cultural de Leiria que dá nome ao festival, João Moital:
“Ele é um homem que está a fazer hemodiálise e que brinca – com o humor que o caracteriza – com a iminência da morte”.
Quase a dobrar meio século, a companhia quer que este Sinopse se apresente, sobretudo, sem medos. “Não temos nada a perder. Em 48 anos já ganhámos autonomia suficiente para fazer alguns disparates”, conclui João Lázaro.
Programa
1 de março, 11h
Vitória Faria, acordeonista, cantora e compositora, inicia o festival com um percurso musical entre o Mercado de Leiria a Sala Jaime Salazar Sampaio
7 de março, 21h30
“Amanhecer em Berlim”, monólogo de João Lázaro a partir de texto de Ana Lázaro, na Black Box de Leiria
8 de março, 18h e 21h30
Performance “O meu corpo”, por João Soares, apresentada pela primeira vez ao vivo na livraria Arquivo; “Damas da noite”, farsa de Elmano Sancho, no Teatro Miguel Franco
9 de março, 15h30
“Asa negra”, concerto de música contemporânea, por Maiseu, de Joana Camões e Miguel Samarão, no Mosteiro da Batalha
15 de março, 19h
“Jacarandá”, teatro de marionetas e formas animadas da Universo Paralelo, na Black Box Leiria
22 de março, 21h30
João Moital estreia a tragicomédia “Diálise”, uma leitura encenada, na Sala Jaime Salazar Sampaio
30 de março, 15h
“Chão de meninos”, por Lavrar o Mar, com dança e música na sede do Rancho Folclórico Rosas do Lena, Rebolaria, Batalha