O peregrino Francisco vai ficar alojado na casa de retiros que recebeu João Paulo II, em 2000, e Bento XVI, em 2010. Não fez qualquer exigência e tudo está a ser preparado na “maior simplicidade”.
Em 2010, Bento XVI não resistiu a uma torta de noz preparada pelas irmãs da Casa Nossa Senhora do Carmo, onde ficou hospedado. O Papa comeu na primeira refeição e gostou tanto que, nas seguintes, as sobremesas foram sempre substituídas pela torta. Já com o Papa em Roma, ligaram do Vaticano a pedir a receita.
Para o hóspede Francisco é provável que a torta de noz volte a ser confecionada, mas Maria do Carmo Fiúza, responsável pela casa de retiros que desde o ano 2000 acolhe os líderes da Igreja Católica, não sabe se, desta vez, o doce será tão apreciado.
O que se sabe é que “o Papa é um homem simples e não há razões para em Fátima ser diferente”, refere Carmo Rodeia, diretora de comunicação do Santuário, adiantando que não foi comunicada nenhuma exigência por parte de Roma.
Aos jornalistas, Maria do Carmo Fiúza reforça esta ideia: “O que nos foi pedido é que preparemos tudo dentro da maior simplicidade: alojamento, refeições, em todos os espaços mesmo ao nível da ornamentação, é assim que o Papa Francisco quer”.
O líder da Igreja Católica ficará nos aposentos onde João Paulo II ficou, em 2000, e Bento XVI, em 2010. Não foram feitas obras de monta para acolher o novo hóspede, só “pequenos ajustes”, como a colocação de uma linha de luz para assinalar a existência de um degrau na casa de banho.
Os aposentos do Papa não ostentam qualquer luxo e são estreitos. Incluem um quarto, uma pequena sala de visitas, um gabinete com uma secretária e duas casas de banho. “O que se vai usar aqui é o que foi usado em 2010 e foi adquirido pela casa”, esclarece Maria do Carmo Fiúza, que pertence à Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima.
Pratos frugais
Todo o espaço que se encontra destinado ao Papa não tem vista sobre o Santuário nem janela direta para o exterior. Maria do Carmo Fiúza acredita tratar-se de uma opção de Roma por razões de segurança.
Quanto às refeições, elas serão confecionadas pela equipa da casa de retiros. À data desta reportagem, no início do mês, não estava definido o que ia ser servido, mas serão “pratos frugais”, tendo o Santuário a preocupação de “utilizar produtos frescos e da zona, até como dinamização da economia local”, esclarece Carmo Rodeia.
Receber um Papa não é tarefa simples, que o diga a equipa de protocolo do Santuário. Aline Venâncio e André Pereira não têm tido mãos a medir na tarefa de organizar a receção das entidades convidadas pela reitoria. Sob sua responsabilidade têm 198 lugares da colunata sul (lado direito quando se olha de frente para o altar).
Os dois elementos trabalham em articulação direta com a equipa do protocolo de Estado, a quem compete organizar a receção das entidades oficiais convidadas pela Presidência da República, como chefes de estado, embaixadores, ministros, entre outras.
Ao todo, são cerca de 400 lugares que ocupam a colunata sul. A atenção das duas equipas estará direcionada para o local onde os convidados se vão sentar e a hora de entrada naquela área reservada, uma vez que depois do início das celebrações, não pode haver qualquer movimentação.
Na colunata norte ficam as pessoas com necessidades especiais, previamente autorizadas, e na zona dos concelebrantes, com capacidade para cerca de duas mil pessoas, vão sentar-se os membros do clero, incluindo os bispos de Portugal.
Com exceção dos jornalistas próximos de Jorge Bergoglio, que deverão vestir-se de escuro, não há dress code instituído, mas há um código de bom senso que deve estender-se a todos os participantes nas celebrações. “O recinto é uma igreja a céu aberto”, sublinha Carmo Rodeia, e um vestuário adequado permite “estar integrado no contexto e não ser o foco da atenção”.
Papa espontâneo e genuíno
Quanto ao carácter imprevisível do Papa e à sua tendência para quebrar o protocolo, Carmo Rodeia acredita que “não será nada de transcendente”. “Já sabemos como é que se comporta o santo padre quando está junto das pessoas, que é muito espontâneo e genuíno. Resta-nos juntar a expectativa de saber como é que se vai comportar o peregrino Francisco quando aqui chegar”, referiu a diretora de comunicação.
Carmo Rodeia lembra que na praça de São Pedro, às quartas-feiras, o papamóvel é muitas vezes obrigado a parar para Francisco descer e que é frequente a troca de solidéu com as crianças. “Com toda a probabilidade, isso vai acontecer aqui”, refere, salientando que “cabe aos peregrinos colocar a sua imaginação à prova e ver de que forma podem criar esse elã com o santo padre de maneira a chamar-lhe à atenção e criar o tal momento de empatia”.
“Se houver um improviso para esta festa aumentar, vamos gostar imenso e não porá em causa o que quer que seja”, conclui.
(Reportagem publicada na edição de 4 de maio de 2017 do REGIÃO DE LEIRIA e editada)
Patrícia Duarte
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Joaquim Dâmaso (Fotografias)
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