Aos 13 anos, fugia para a Senhora da Encarnação e, entre fogueiras, djambés, guitarradas e garrafas de vinho, esmerava-se por tocar “Seven fingered friend”. Dia 19 de Junho de 2010, Nuno Gomes vai subir aos palcos como vocalista dos Primitive Reason, responsáveis por esse sucesso do rock nacional da década de 90.
É uma grande novidade na vida de alguém que desde pequeno se rendeu à música. Nuno Gomes ouviu sempre a avó cantar “ao menino Jesus” e o pai tocar realejo nas reuniões de família. Essa “herança” musical foi a suficiente para o conquistar para a música e hoje tocar diversos instrumentos e integrar dez projectos musicais. “Ando nas nuvens! É muito bom conseguir viver da música, é o meu sonho”.
Um amigo comum soube que os Primitive Reason procuravam nova voz e perguntou-lhe se conhecia alguém. Ofereceu-se ele próprio, fez uma audição, escreveu letras para músicas da banda, sofreu de ansiedade pela resposta. Mas ela surgiu: Gomes – como é conhecido na música – vai estrear-se pelos Primitive Reason num concerto em S. Miguel, nos Açores.
Mas como chega alguém mais conhecido pelo baixo e pela guitarra a vocalista? “Não sou um virtuoso da voz, mas posso acrescentar qualquer coisa”. E somar harmónica e baixo, quando necessário. Além desses dois, Gomes toca ainda guitarra e percussão, faz programação electrónica e anda a aprender violino. “Gostava de aprender piano e clarinete, também. Tudo o que faça som, fascina-me e é para aprender”.
Agora, Nuno Gomes pode esquecer por uns tempos a “via sacra” dos currículos para dar uso à licenciatura em Estudos Artísticos da Universidade de Coimbra. Mas não quer deixar de lado os seus outros nove grupos e o Triopulante, o grupo de teatro.
“Os Primitive Reason vêm dar outra dinâmica ao meu trabalho e permitem-me concentrar só na música, o que gosto de fazer”. Mas, dentro do possível, vai manter-se nos outros grupos. “É malta muito porreira com quem trabalho”.
Os Primitive Reason já têm 17 anos, mas o músico (de 27) não sente a responsabilidade. “Já tocaram em quase todo o lado, na Europa, Estados Unidos, festivais… Assumo bem esta responsabilidade, era o que eu queria. Perguntam-me se fico um bocado nervoso: absolutamente nada. Quando se toca música, o gozo maior é ter muita gente à frente. E se não acreditasse em mim não tinha ido à audição”.
Os outros projectos de Nuno Gomes
Primitive Reason são a novidade na carreira de Nuno Gomes. Mas o músico integra e dá vida a diversos outros projectos musicais. E até faz parte de um grupo de teatro. Conheça-os todos descritos na primeira pessoa:
– Horse Head Cutters: “Rock puro, com uma voz incrível, um guitarrista incrível e agora temos um baterista muito bom”
– Kadag: “Trance com o meu grande amigo Bruno [Cordeiro]”
– Yanus: “Electrónica, uma fusão de estilo, também com o Bruno”
– Beijo Negro: “Produção electrónica, e depois vem o grande [António] Cova e mete aqueles textos e a voz poderosa que até dói”
– Akhmátova 77: “Com o Cova e o Ricky e textos da Anna Akhmátova”
– Canker: “Um projecto com muitos anos, com o Marciano, Fernando e o Mumi”
– The Snake Charmers: “Eu e o Pedro, guitarrista dos Horse Head Cutters, compomos sons e vamos tentar tocar ao vivo”
– Projecto Artes Novas: “Projecto multidisciplinar, com o Fernando, Graça, Sílvia, Rui…”
– Dirty Gomez: “O meu projecto electrónica a solo, sem estilo definido”
– Triopulante: “Gosto muito de fazer teatro, é o grupo onde estou agora, orientado pelo João Pedrosa”
Manuel Leiria
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