Os Peña Kalimotxo são a banda convidada para abrir o festival da touria, esta sexta-feira, dia 6 de outubro
Da mistura de vinho não fermentado com aguardente faz-se o abafado. Da mistura de abafado com fanfarras nasce Abafarra, o Festival da Fanfarra e do Abafado que estreia este fim de semana, dias 6 e 7 de outubro, em Leiria.
É na Touria, Pousos, que ensaiam os Farratuga, uma fanfarra de Leiria que já conquistou fama na região. Frequentemente, a meio da sessão, algum produtor local passa por lá e oferece-lhes uma garrafa de abafado. Assim, entre notas musicais, goles retemperadores, e também das atuações em festivais de aldeia, germinou a ideia para Abafarra.
“Temos ido muitas vezes ao Fundão, onde há festivais dos míscaros, dos chocalhos ou da cereja, que acontecem dentro de aldeias”. Lá, explica Miguel Alves, músico dos Farratuga, “as pessoas abrem as portas das casas, vendem o que querem, com as fanfarras tocar por lá nas ruas e dentro das casas. Aquilo é engraçado e achámos que era uma boa coisa para fazer na Touria”.
O resultado é Abarrafa: à música de três fanfarras e de outros grupos de música tradicionais portuguesa convidados, junta-se o abafado da terra como tema para dois dias de festa, bem no centro da Touria, an rua da Silveira.
Por lá, a vender a sua produção de abafado e também sandes de pernil, vai estar Luís Roda. Ele é um dos produtores de abafado da Touria e está entusiasmado com o festival. “É uma ótima ideia para promovermos o nosso produto. Muitas vezes o abafado é esquecido”, lamenta.
Há várias formas de fazer abafado, mas o da região destaca-se por ser mais apaladado, nota Luís Roda. Para os especialistas, no sábado, dia 7, há até um concurso do abafado.
“Pode-se fazer tinto ou branco. Depois cada um dá o paladar à sua maneira”. Luís costuma produzir até cem litros por ano, mas em 2017 fez duplicou a produção já a pensar no próximo Abafarra: “Agora que começámos não pode parar! O festival tem de resultar”.
Miguel Alves também acredita que resultará. “Andamos a trabalhar bastante. Às vezes aparece uma coisa diferente e o pessoal fica de pé atrás… Esperemos que isso não aconteça”, diz o músico dos Farratuga, que vão festejar o sexto aniversário e homenagear Jaime Pascoal, um dos elementos da fanfarra, desaparecido este ano.
A par da música e do abafado, no Abafarra haverá também jogos tradicionais e gastronomia: além da sandes de pernil da banca de Luís Roda, será servido caldo verde, chouriça assada, bolos e outros petiscos.
A intenção dos Farratuga é apoiar um produto típico português, o abafado da região, mostrar boa música nacional e garantir uma grande festa com música de fanfarras. “Não vamos ter tantas quanto isso, são só três. Mas, se Deus quiser, o festival continua e para o ano vai haver mais fanfarras e ainda mais animação. Começamos com dois dias e para o ano há de ser uma semana!”.
Mais apaladado do que outros do país, o abafado da região pode ser tinto ou branco. É feito ao mesmo tempo que o vinho, explica Luís Roda, mas com uma grande diferença: a uva não pode fermentar. “Espreme-se, mete-se dentro da pipa, junta-se uma percentagem de aguardente e fecha-se bem. Passado uns dois ou três dias já se pode provar”. A escolha e quantidade de aguardente é determinante. “Prefiro usar aguardante de bagadeira, fica mais suave do que com a vinícola. Mas cada um dá o paladar à sua maneira”, sublinha. Para ficar no ponto, Luís Roda recomenda que se espere “entre 15 a 20 dias”. O produto final fica com 20 a 25 graus. E depois é beber ou deixar envelhecer. “É como o vinho do Porto, quanto mais velho melhor!”.