Antigos elementos da Comissão Contra as Portagens, que há doze anos conseguiu a isenção de pagamento no troço Caldas-Óbidos-Bombarral recusam admitir que o mesmo venha a ser portajado e admitem reacender a contestação.
“Parece-me um absurdo pensar em pôr portagens naquele troço, que foi construído para ser um IC (Itinerário Complementar) e não uma autoestrada” disse à Agência Lusa Fernando Costa, presidente da câmara das Caldas da Rainha (PSD) e ex-elemento da Comissão Contra as Portagens.
O troço Caldas da Rainha-Óbidos-Bombarral é o único em toda a A8 (que liga Lisboa a Leiria), com isenção de portagens, na sequência da contestação que em 1997 movimentou centenas de pessoas.
O movimento conhecido como a “guerra contra as portagens” surgiu na sequência de uma moção apresentada por Feliz Alberto Jorge, na altura deputado na Assembleia Municipal do Bombarral (eleito como independente pelo PSN – Partido da Solidariedade Nacional).
“Como se tratava de uma reivindicação importante para toda a região, gerou-se um movimento que congregou gente de todos os partidos, autarquias, e gente de todos os quadrantes da sociedade civil”, recorda Feliz Jorge.
A Comissão Contra as Portagens, liderada por Feliciano Barreiras Duarte, protagonizou durante mais de um ano protestos e manifestações que movimentaram várias centenas de oestinos.
“Mas não foi só pela isenção que a contestação valeu a pena” defende Feliz Jorge, recordando que na altura foi conseguida igualmente a correção da Estrada Nacional 8, entre o Bombarral e Torres Vedras.
“Era uma estrada com 366 curvas cuja correção beneficiou a população, já que entre o Bombarral e Torres Vedras, se mantiveram as portagens”, sublinha Feliz Jorge.
A falta de vias rodoviárias alternativas era um dos argumentos da contestação.
“Embora esse troço integre a A8, na verdade ele foi construído como uma variante destes concelhos e a câmara até cedeu alguns terrenos” explica Fernando Costa defendendo a continuidade da isenção de pagamento.
“A estrada foi construída com fundos comunitários e, mais tarde a concessionária (Autoestradas do Atlântico) assumiu a obrigação de fazer a manutenção do troço e, portanto, quem tem que pagar não é o Estado nem os utentes”.
“Ter ali portagens é tão absurdo como portajar caminhos rurais ou as estradas dentro das cidades” afirma o autarca, justificando que “as entradas e saídas não têm características de autoestrada nem é feito o controlo de trânsito”.
Feliz Jorge vai mais longe e sugere mesmo que “se o Governo nos quiser impor portagens as câmaras devem liderar um movimento de contestação e voltar às ruas”.
“O Bombarral já deu o exemplo de como um pequeno concelho, quando reivindica de forma justa, pode conseguir resultados”, recorda o atual líder da Associação de Agricultores do oeste.
“Hoje estou afastado da política, mas se surgir um novo movimento, estou pronto para fazer parte e voltar a lutar pelos interesses da região”, acrescenta o ex-deputado para quem fica a mágoa de “as autarquias e sociedade civil nunca se terem unido pela Linha [ferroviária] do Oeste”.
“Se tivéssemos seguido o exemplo das portagens, hoje a linha (que liga Figueira da Foz a Lisboa) não estava ao abandono”, sustenta Feliz Jorge esperançado de que “no dia em que os políticos puserem a população à frente dos interesses partidários” essa possa ser “a próxima guerra do oeste”.