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Mira de Aire perdeu o carvalho que nasceu antes da freguesia

Mais do que um carvalho, era um ícone de Mira de Aire. Quando no início do século XVIII, a freguesia de Mira de Aire surgiu, desanexada de Minde, já o carvalho do Chão da Aberta teria uma idade avançada. Tombou agora, dia 15 de fevereiro, provavelmente em consequência da idade avançada.

Mais do que um carvalho, era um ícone de Mira de Aire. Quando no início do século XVIII, a freguesia de Mira de Aire surgiu, desanexada de Minde, já o carvalho do Chão da Aberta teria uma idade avançada. Tombou agora, dia 15 de fevereiro, provavelmente em consequência da idade avançada.

Teria uns cinco séculos de idade, avançam os responsáveis da Mata Jovem, associação de Mira de Aire que recentemente adquiriu o terreno onde a árvore mostrava todo o seu esplendor.

O Chão da Aberta, local onde o carvalho atravessou os séculos desde os tempos dos impérios lusos além-mar, é também um local único: nos anos chuvosos, integra uma espécie de mar interior temporário. Quando o polje de Mira-Minde inundava, o carvalho apenas era acessível de barco. No verão, quando a animação bianual do festival Mata D’Aire chegava ao recinto, a árvore transformava-se no elemento central da paisagem de um festival. A semana passada, caiu. O peso da idade fê-lo ceder.

“Estava numa zona que inunda e isso pode estar relacionado, adoeceu e apodreceu”, conta João Diogo, responsável da Mata Jovem. Depois de ter sido encontrado caído, foi desmantelado, por razões de segurança. O responsável da associação adianta que partes da árvore, muito querida localmente, deverão ser entregues às grutas e à junta local. O restante deverá ser vendido como lenha. Mas a ideia é preservar a memória do carvalho.

“Estamos a pensar em alternativas que podem passar por plantar mais carvalhos, mas também queremos colocar alguma marca ou monumento na zona para eternizar a memória do carvalho”, refere ainda.

Carlos Alberto, responsável das Grutas de Mira de Aire e um conhecedor da história local, considera que a freguesia perdeu um ícone. “Pela certa tinha mais de cinco séculos” e, recorda, era querido pela população: “era ali que habitualmente a população ia na quinta-feira da Ascensão confraternizar e até dançar”. Ou ali “ou no Covão da Carvalha”, acrescenta.

Carlos Alberto sublinha o facto curioso de o carvalho acabar por sucumbir 77 anos e um dia depois do grande ciclone de 1941. Ao contrário do que acontece este ano, em fevereiro de 1941, o polje estava inundado. A terra encharcada facilitou o trabalho do vento no derrube da Mata existente. Mas o carvalho resistiu. Agora, “foi a idade que fez com que sucumbisse”, adianta Carlos Alberto.

Entretanto, a Mata Jovem lançou um apelo nas redes sociais. A ideia é fazer uma recolha de memórias da árvore. O convite da associação é dirigido a “toda a população, não só de Mira de Aire como também de toda a região, a partilhar as suas histórias, memórias e experiências vividas sob as tão grandes quanto acolhedoras braçadas do Carvalho de todos nós”.

Quando todo o material – fotos, histórias e vivências – estiver recolhido, a Mata Jovem planeia publicá-lo. E aí o velho carvalho ganhará nova vida.

Artigo publicado na edição impressa de dia 22 de fevereiro

Carlos S. Almeida
Jornalista
carlos.almeida@regiaodeleiria.pt


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