Somos um povo solidário, gostamos de ajudar revemo-nos na desgraça dos outros e somos muito generosos. Queremos estar na linha da frente e perante uma chamada respondemos que sim, com trabalho, donativos e sacrifícios. Mas somos um povo, em matéria de generosidade, de corrida rápida, dos 100 metros, não gostamos de meio fundo e muito menos de maratonas. Somos intensos, não perseverantes, podemos ficar toda a noite a trabalhar para resolver um problema mas não nos peçam meia hora todos os dias, que fazemos, mas revoltados.
Com esta desgraça dos incêndios do ano passado ficou claro como somos altruístas e capazes de grandes feitos. Mas também somos trambiqueiros, aproveitadinhos, “já agoristas”, isto é já agora faço obras no palheiro que nem sequer sabia onde ficava muito bem. Digo que isto era a minha habitação principal e fico com uma casita lá na aldeia. E isso para além de ser uma desgraça, porque estamos a enganar quem dá de coração, mina a confiança nas instituições que vivem da generosidade dos outros. Costumo dizer que podemos ser levezinhos e irresponsáveis com o nosso dinheiro, mas nunca com o dos outros, porque o peso de uma dádiva só quem a dá consegue aferir. Mais do que a desgraça do dinheiro mal utilizado ou desviado, a falta de transparência na gestão desses dinheiros descredibiliza quem precisa de donativos, pela tendência que temos em meter todos no mesmo saco. Quem se serve desses dinheiros para uso próprio prejudica mais do que os justos beneficiários, prejudica uma imensidão de gente que vive através de instituições idóneas e sérias. A Raríssimas foi uma machadada brutal nesta área que agora foi ainda mais abanada pela falta de honestidade na gestão dos dinheiros para apoio às vítimas dos incêndios.
Caros amigos saibam a quem dão, interessem-se em saber o que fazem com o que dão, mas não deixem de dar. Sejamos todos mais exigentes, mais presentes, mais vigilantes. Em última análise quem precisa acaba sempre a sofrer quando nos demitimos das nossas responsabilidades. Por favor, não deitemos por terra uma das nossas mais nobres características que é sem dúvida estender a mão a quem precisa.
(Artigo publicado na edição de 30 de agosto de 2018)