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Desporto

Campeão do mundo de pesca desportiva procura novo título na África do Sul

António José Xavier pratica a modalidade com paixão desde criança e suporta as despesas do próprio bolso. A partir de hoje, está nos Jogos da Pesca, prova que acontece de quatro em quatro anos e junta os melhores do mundo

Treinos na praia, entre Peniche e a Nazaré, ajudam António José Xavier a “limpar a cabeça” Foto: Mário Vasa/Gazeta das Caldas

Fartava-se de chorar quando a avó, em pequeno, não o deixava ir à pesca, na baía de São Martinho do Porto, com o “ti Meca”, um pescador reformado. E enchia-se de orgulho quando regressava a casa com cabozes e sarguetas e, “com muita paciência”, a avó ou a mãe “faziam uma sopa com aqueles peixes e outras coisas” para toda a família.

Cinquenta anos depois e com trinta de competição, António José Xavier, campeão do mundo de pesca desportiva, em masters, participa a partir de hoje, quinta-feira, nos Jogos Mundiais de Pesca Desportiva, em Langebaan, na África do Sul. É mais uma internacionalização, a juntar às 27 participações em campeonatos do mundo, por clubes e nações, fora os 14 anos consecutivos em que esteve no campeonato nacional de seniores, as seis ocasiões em que foi vice campeão nacional e a presença anual no nacional de clubes. Foi campeão nacional pela primeira vez em 1997. Em seis provas conseguiu seis primeiros lugares.

Como se constata pelo palmarés deste professor da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, em Caldas da Rainha, a alta competição não é novidade e apesar das expectativas elevadas, será a técnica e a destreza física que vão ditar quem se vai sair melhor nos Jogos da Pesca, uma espécie de jogos olímpicos da modalidade, que se realizam de quatro em quatro anos.

“Os melhores da pesca desportiva de mar, e de todas as outras categorias, a nível mundial vão estar lá. Mas os peixes que vamos apanhar são muito diferentes daqueles que apanhamos aqui”, diz.

Se entre Peniche e Nazaré, António José Xavier está habituado a pescar robalos, sargos, douradas, linguados e pregados, em Langebaan são os tubarões viola ou brancos e as raias que vão dominar. No final, o peixe, todo ele vivo, é devolvido ao mar.

Despesas do próprio bolso
Com o bichinho da pesca incutido desde miúdo, aos 28 anos, António José Xavier aceitou o convite do Sporting das Caldas para começar a competir. Esteve na Associação do Campo, SIR Os Pimpões, Clube dos Amadores de Pesca de Faro e Salir do Porto.

Agora é atleta do Leões de Porto Salvo. Uma época de competição custa-lhe quatro mil euros. Desde que foi campeão do mundo que algumas inscrições nas provas são suportadas pelo clube. Uma pequena migalha. “A crise de 2009 acabou com as verbas das autarquias para os clubes, o desporto e as questões sociais. Antes da crise, o número de pescadores era o dobro do que é hoje. Felizmente continuamos a conseguir muitos títulos e isso ajuda-nos a manter as verbas do Instituto do Desporto”, reconhece.

Para viajar até África do Sul vai pagar, do próprio bolso, cerca de dois mil euros. “A Federação não tem verbas para os atletas e o dinheiro nem sempre é gerido da melhor forma. Só pesca quem gosta mesmo muito, caso contrário seria difícil suportar”, lamenta.

Contudo, o prazer de estar na praia, a ouvir o mar, ajuda-o a “limpar a cabeça”. “Não recebo nenhuma fortuna com isto, apenas tiro um benefício pessoal, uma sanidade mental, que me ajuda a abstrair dos problemas do dia a dia”, diz.

Quando começou a competir, o atual campeão do mundo treinava duas vezes por semana, 1h30 cada, lançamentos e direção, e ao fim de semana fazia mais dois treinos de quatro horas cada de pesca. As férias também eram programadas para uma praia onde pudesse pescar.

Agora, com 59 anos, treina, duas vezes por semana, cerca de uma hora cada, pesca e lançamentos. “Mantenho-me ativo na mesma e mais do que a técnica, o treino psicológico é muito importante. Imagine uma prova à chuva. É preciso estar preparado para conseguir pescar nessas condições e ter bons resultados”, explica. Chuva é algo que não deve incomodar António José Xavier em Langebaan, onde as previsões dão sol e temperaturas acima dos 17 graus.

Marina Guerra
Jornalista
marina.guerra@regiaodeleiria.pt

(Artigo publicado na edição de 7 de fevereiro de 2019)

A prova dura quatro dias e o caldense António José Xavier acredita que será possível tirar até 300 kg de peixe, num só dia, em quatro horas. “Dá mais rendimento tirar peixes mais pequenos, porque se tiram muitos, do que uma raia de 20 ou 25 kg”, diz

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