Ainda a espuma das eleições europeias onde os vencedores foram os desencantados, os desinteressados, os militantes da anomia social em que o país tem vindo a mergulhar.
E de quem é a culpa? De todos nós, portugueses, uns por ação outros por omissão. É certo que a classe política devia ser mais competente, menos provinciana, mais virada para os problemas europeus e menos para a mercearia interna, mas é o que temos.
Para além deste problema de fundo acontece que o país mudou. Infelizmente, os partidos tradicionais, com exceção do PS, perderam-se no tempo. O PCP parece não perceber que a matriz ideológica e o quadro social que lhe deram origem desapareceram. O PSD também evita reconhecer que o cimento dos interesses que estiveram na sua fundação se exauriu à medida que os tempos suscitaram outros e os novos caudilhos regionais não têm a capacidade dos anteriores.
O CDS, que foi sempre um partido envergonhado da sua origem, nunca poderá ir longe a fingir-se o que não é, oscilando entre as feiras e o glamour citadino, entre a oposição dura e a mesa da situação.
O PS, muito à conta do perfume do poder, do génio estratégico de António Costa e da competência técnica de Mário Centeno, é o único que consegue juntar os cacos do regime e seguir em frente.
O BE, ideologicamente totalitário, travestiu-se de fraturista, seduz o voto jovem e faz do protesto a sua canção. Os restantes são partidos reality shows, é tudo espetáculo, e muita gente gosta, aplaude e vota.
A classe política em Portugal é cada vez menos qualificada, o discurso medíocre, as ideias pobres, muitos dos atores apenas servem para debitar sound bites. Não é assim que se constrói o futuro de um país. Onde está a estratégia? O discurso mobilizador? A força de vencer o futuro?
Assim nunca mais iremos além da Taprobana. Mudar é preciso e rapidamente.
(Artigo publicado na edição de 13 de junho de 2019)