A travessia de Tarifa em Espanha para a Tânger marroquina correu sem sobressaltos. A entrada na cidade africana foi um pouco chata, com a passagem na alfândega a ser lenta e algo confusa. Era um corrupio de polícias, a entrar e sair com papéis na mão, passaportes – faltava sempre alguma coisa. Várias pessoas a perguntar a mesma coisa, várias vezes.
No dia seguinte pararam à beira da estrada para almoçar quando o calor já era algum e comeram um Tajin – carne de carneiro com vegetais – acompanhado de muito pão e algumas moscas para enxotar.
A viagem continuou até Guelmin e já era de noite quando chegaram a Tan Tan, aí sim, já às portas do deserto. Foram a uma venda comprar pistachos e o dia acabou num hotel ao fim da avenida, um vento suão forte, a arrastar alguma areia como que a anunciar a proximidade árida. Na manhã seguinte, após meia dúzia de quilómetros, a paisagem ficou muito mais inóspita e amarelada.
À hora de almoço atingiram La’Youne, capital do Sahara Ocidental, também conhecida como Sahara Ocupado, o que explica a instabilidade da zona e onde está instalada, nos melhores hotéis da cidade, toda a comitiva dos Capacetes Azuis. Estava tudo muito calmo, semi-fantasmagórico, mas sempre com a sensação de que se alguém atravessasse a rua fora da passadeira, estaria sujeito a levar um tiro de algum sniper.
Esta semana o texto de Pedro Miguel para “É sexta-feira foge comigo” é ilustrado
com uma fotogaleria da autoria do fotógrafo Joaquim Dâmaso