Em tempos de eleições legislativas a ideia da maioria absoluta ressurge como se de um Santo Graal se tratasse. As próximas eleições disputam-se num contexto muito particular, ninguém tem dúvidas de que o PS vai ganhar, a única incógnita é se alcança a maioria absoluta. Prudentemente, Costa não a reclama de forma explícita, embora se desdobre em declarações que contribuem para induzir nos eleitores a convicção de que ou o PS a alcança ou fica refém de outras forças políticas mais à esquerda.
O nosso sistema político não exige maiorias absolutas para que haja estabilidade, como bem ficou demonstrado nesta legislatura, basta que se formem maiorias parlamentares, que até podem ter geometrias variáveis, e a estabilidade do sistema não é afetada. Então porquê esta quase obsessão pelas maiorias absolutas? Por uma razão simples, porque o nosso sistema político e a sociedade portuguesa estão demasiado dependentes do Estado, a sociedade civil é frágil, e um partido que domine o Estado, é este o verdeiro jackpot da maioria absoluta, alcança um poder imenso que não só lhe permite governar sem incómodos, como lhe dá o controlo absoluto da máquina estatal e do país.
No momento atual, em que a esquerda é maioritária e parece continuar a crescer, em que a direita está estilhaçada e em queda, quem pode constituir contrapeso a uma maioria absoluta do PS? Apenas o PR. E é precisamente por este motivo que, apesar de parecer uma contradição, esta talvez seja a melhor solução para assegurar quatro anos de estabilidade.
Costa é Costa, mas é um pragmático e já deu provas de que é um político competente e, face à incapacidade das forças à direita para definirem uma estratégia sólida de futuro e serem uma alternativa credível, e tendo presente a experiência da “geringonça”, faz sentido pensar no ditado popular “mais vale só do que mal acompanhado”.
(Artigo publicado na edição de 5 de setembro de 2019)