“Se as promessas não cumpridas pagassem impostos, o nosso orçamento já estaria há muito equilibrado”. São palavras de Durão Barroso, na apresentação da lista do PSD por Leiria às eleições legislativas de 1999.
Na edição de 24 de setembro desse ano, o REGIÃO DE LEIRIA deu conta que o líder social-democrata culpava o PS por ter deixado em terra as propostas que havia lançado para o mandato anterior. Mas será que elas já foram cumpridas?
Convidamos o leitor a vir connosco nesta viagem no tempo. Recuamos 20 anos, até às legislativas de 1999. Nessa altura três dossiês destacavam-se entre os partidos na corrida por um lugar na Assembleia da República: a poluição no rio Lis, a deterioração da linha do Oeste e a criação de uma universidade pública em Leiria. Assuntos que, nos dias de hoje, ainda se mantêm no discurso político.
O PSD propunha a modernização da linha do Oeste (que deveria ser eletrificada e duplicada) e a criação de uma universidade pública. Ferreira do Amaral, cabeça de lista, dizia, a 3 de setembro de 1999, ser um compromisso “fácil de realizar”, já que em Leiria, nos quatro anos anteriores, “não se fez nada”. “Acessibilidade, universidade e formação” seriam as regras básicas para o desenvolvimento de qualquer região, de acordo com o PSD.
A verdade é que as promessas “fáceis de realizar” não se fizeram nos quatro anos anteriores, nem posteriores, nem até hoje.
E o PSD não é caso único. Os socialistas que procuravam ganhar pela primeira vez no distrito de Leiria tinham a abertura do ensino universitário em Leiria nos seus planos, a par com a melhoria das acessibilidades rodoviárias (conclusão da A8 e a ligação às autoestradas) e ferroviárias (renovação da linha do Oeste). Também pelos socialistas ficaram promessas por cumprir.
Os três estandartes estavam nas prioridades do Bloco de Esquerda em 1999. Os membros da lista estiveram na ponte Afonso Zuquete, junto ao posto de Turismo de Leiria, para demonstrar as suas preocupações ambientais em Leiria. O “enterro” do rio Lis devia-se, segundo os jornais publicados então, à inércia dos poderes central e local e às atividades das suiniculturas, lagares, destilarias, fábricas de conserva, indústria de vidro e indústria de mármores.
A diminuição de impostos, o aumento do salário mínimo, a redução do horário semanal de trabalho, o aumento das pensões, maior apoio domiciliário e maior qualidade de vida dos idosos eram outras prioridades dos oito partidos que concorriam por Leiria: PS, PSD, CDS-PP, CDU, BE, PCTP-MRPP, PSN e POUS.
O PSD acabou por ganhar as eleições em Leiria com 42,60% dos votos e o distrito ficou representado por Ferro Rodrigues (PS), Ferreira do Amaral (PSD),Feliciano Duarte (PSD), Fernando Costa (PSD), Isabel Vigia (PS), José António Silva (PSD), Celeste Cardona (CDS-PP), Maria Ofélia Moleiro (PSD) e Osvaldo de Castro (PS).
Nenhum está nas listas de Leiria que no próximo dia 6 de outubro vão a eleições.
Já as causas por que se batiam em 1999 continuam a ser uma prioridade mas degradaram-se e continuam por resolver.
Será assim um compromisso tão “fácil de realizar” como disse Ferreira do Amaral ao nosso jornal há 20 anos?
(artigo publicado na edição de 5 de setembro de 2019)