Bombeiros de Óbidos vão percorrer até maio do próximo ano todas as freguesias do concelho para informar, sensibilizar e ajudar a população sénior mais vulnerável, sobre os cuidados de segurança no âmbito dos primeiros socorros, prevenção e medidas de auto proteção, e segurança nos incêndios urbanos e rurais Foto de arquivo: BVO
Nos bancos da antiga escola primária do Sobral da Lagoa sentam-se agora idosos de várias aldeias do concelho de Óbidos para aprender com os bombeiros locais gestos aparentemente simples, mas que, numa emergência, podem salvar vidas.
Luísa Eusébio, de 93 anos, é a mais velha das cerca de 50 pessoas que ouvem atentamente o bombeiro Carlos Sousa explicar como devem proceder “numa emergência e como dar o alerta para o 112”.
Entre a meia centena de idosos sentados na antiga sala de aulas, apenas Maria Rosa Henriques ligou “uma vez” o número de emergência, para “chamar uma ambulância porque estava a ter um enfarte”.
A quem não sabe, Carlos Sousa vai explicando como ligar, o que dizer ao operador e, sobretudo, que “nunca devem desligar antes de responder a todas as perguntas, porque quanto mais informações derem mais depressa chega o socorro”.
Embora, por vezes, o socorro chegue “mesmo sem ser chamado”, interrompe Ilda Franco, de 86 anos.
“Quando a imagem da Nossa Senhora veio ao Vau (freguesia de Óbidos) eu caí à porta da igreja, aos pés do padre, e os bombeiros que vinham junto ao andor levaram-me logo para o hospital”, conta.
A história é rastilho para o burburinho que se instala na sala, com todos a terem uma história para contar ao companheiro da cadeira ao lado.
Carlos Sousa volta a centrar em si as atenções para acrescentar que “a chamada para o 112 é gratuita, não tem qualquer custo”.
A informação “pode parecer despropositada”, adverte, mas “numa população com reformas baixas, o dinheiro que temem gastar com uma chamada desincentiva muitas vezes os idosos de ligar o 112”.
Em Óbidos, a julgar pelo entusiasmo dos idosos, essa tendência pode mudar.
“Quem é que tem um telefone de teclas”, pergunta Carlos Sousa, para ouvir meia dúzia de respostas tímidas. Mas quando diz: “Vou ensinar-vos um truque para ligar 112 com o telefone bloqueado” a sala transfigura-se.
Instalado o reboliço de tirar telemóveis dos bolsos e com um coro de “venha cá fazer”, “faça aqui no meu” e “mostre lá como se faz neste telefone”, acaba o sossego de um ou dois que, de quando em vez, se iam deixando vencer pelo sono.
O bombeiro volta à carga e muda o tema, desta vez para explicar como devem colocar uma pessoa em posição lateral de segurança ou como fazer a manobra de Heimlich, uma técnica que limpa as vias aéreas ”se uma pessoa se engasgar, com comida, por exemplo”.
“Eu já fiz isso uma vez ao meu marido”, grita Graziela, de 68 anos, enquanto se levanta rapidamente para contar a história de quando o marido “se engasgou com água, no meio do salão [da coletividade]” e foi salvo pela esposa.
Carlos Sousa exemplifica “devagar” as pancadas que “se devem dar nas costas”, indicando que numa situação verídica “tem se se fazer com mais força”.
“É dar-lhe com força e se for preciso dá-se com o cabo da enxada”, lança uma utente, arrancando gargalhadas à plateia.
“Isto é sério”, insiste Carlos Sousa.
“Porque se uma pessoa estiver engasgada e não conseguir respirar sabem o que acontece?”, questiona. “Vai-se”, responde a sala em coro, voltando ao registo de plateia atenta.
Ao fim de hora e meia sentados nos bancos da escola, a maioria dos idosos parece ter entendido a mensagem que Carlos Sousa acredita poder “fazer a diferença e salvar vidas”.
O bombeiro irá agora, como diz o povo, “pregar para outra freguesia”, no âmbito do projeto desenvolvido pela corporação de Óbidos até ao final do primeiro semestre de 2020, que visa fazer chegar a todos os idosos dos centros do Programa Melhor Idade formação básica em primeiros socorros, segurança e incêndios.
Dina Aleixo, Agência Lusa