A resposta ao aumento da procura de carne de porco não pode acontecer à custa do ambiente, avisou hoje, 18 de dezembro, o presidente da Câmara de Leiria, na Marinha Grande, na cerimónia de assinatura de um protocolo com a Agência Portuguesa do Ambiente para conservar e procurar focos de poluição nas margens da Ribeira dos Milagres.
Gonçalo Lopes assumiu que a pressão sobre a produção suinícola, apontada como principal responsável pela má qualidade das águas da bacia hidrográfica do rio Lis, cria “um novo desafio a que temos de estar atentos”, sobretudo porque nessa zona está concentrada “aproximadamente 20% da produção suinícola nacional”.
“A carne de porco está a ter uma enorme procura. O leitão está mais caro – se o comprarem para o Natal vão perceber – e a carne de porco também, com a exportação”, afirmou, antecipando uma “pressão na produção” que “não pode ser à conta do ambiente”.
“Nestas atividades económicas [agropecuárias] tem de haver um equilíbrio e uma relação cada vez melhor com o território” disse o autarca, revelando conversas que tem tido com suinicultores do concelho.
Segundo Gonçalo Lopes, a produção de ciclo curto, como o leitão, “ainda pode conviver em zonas de minifúndio”, mas “a engorda só pode ser em zonas de latifúndio, terrenos de maior extensão agrícola”.
“Temos território capaz disso. Este planeamento tem de ser frontal e aberto. Em contactos com suinicultores, tenho-lhes dito que têm de repensar, se querem continuar a atividade. Têm de escolher territórios mais capazes para fazer o seu trabalho, sem os excluirmos de onde começaram a sua atividade”, frisou.
O presidente da Câmara de Leiria considera que o rio Lis tem de ser um “grande desígnio”, realçando que tem sido feito “um esforço muito grande para conseguir valorizar e sensibilizar para a importância ambiental”, nomeadamente quanto “às causas principais de poluição do rio”.
Há uma mudança de paradigma a acontecer, identifica Gonçalo Lopes, que lembra o pensamento do atual presidente dos Estados Unidos da América:
“O que diz Trump e pessoas como Trump não faz sentido, mas há muita gente que acredita nisso. Está na altura do ciclo terminar e termos de facto outra atitude”, reconhecendo uma mudança na população do concelho, percetível até na maior parte das reclamações que recebe:
“As pessoas queixam-se da limpeza urbana, de um ato criminoso para com o rio rio, que há ratos na margem, da recolha do lixo ou dos transportes públicos e sua poluição… Tem tudo muito a ver com o ambiente. Este é o tema. Não é só o mercado eleitoral. O tema do ambiente tem de estar na consciência e na atitude política de quem tem obrigações e poder”.
Segundo o presidente da autarquia, nos últimos anos “o objetivo foi sempre produzir mais, ganhar mais dinheiro, ter uma ambição capitalista, empreendedora nos diversos setores, sem ter uma preocupação ambiental”.
“Estamos a dar passos para que isso se inverta e se devolvam os rios devidamente limpos às populações”, conclui.