Os utentes do lar da Misericórdia de Porto de Mós estão a comunicar com as famílias com recurso a quadros com mensagens tranquilizadoras. Em tempos de isolamento, as novas tecnologias revelam-se aliadas dos velhos quadros de ardósia.
São mensagens inscritas em quadros que fazem lembrar os antigos tempos de escola. Mas também as alturas em que em guerras noutros continentes e de outros impérios, se mandavam recados para a família pela televisão e se garantia, “eu estou bem”.
Em março de 2020, a televisão a preto e branco deu lugar às redes sociais e por aí são difundidos recados enviados do interior de ilhas de isolamento preventivo, num lar em Porto de Mós, com cerca de seis dezenas de utentes.
Se o vírus corta o contacto social, a imaginação tenta fintá-lo. “Eu estou melhor, beijinhos para todos”, pode ler-se numa das imagens exibidas na página da Santa Casa da Misericórdia de Porto de Mós na rede social Facebook.
É uma idosa, utente do lar, quem segura o quadro na mão, ensaia um sorriso, e do outro lado, pela certa, espanta a ansiedade de familiares e amigos.
“Como os utentes não podem sair nem receber visitas, estamos a fazer videochamadas, telefonemas e a colocar mensagens nas redes sociais”, explica Cláudia Braga, diretora de serviços da instituição.
Em dias tão excecionais quanto estranhos, a necessidade de travar o contágio, obriga a um espartano corte físico com o exterior. Ainda assim, entremeado com atividades que pretendem garantir normalidade no quotidiano, nos contactos e nos afetos: “queremos tranquilizar os familiares e desta forma os idosos têm atividades para realizar”, acrescenta Cláudia Braga.
Entre os utentes, a diretora de serviços identifica, sobretudo, “tranquilidade”. Até porque “foram-lhes passadas todas as informações, falamos no assunto todos os dias e estão em contacto com a família”.
Há, incontornavelmente, uma componente estranha num isolamento total, realizado com um inédito figurino: funcionários com máscaras, desinfeções e lavagens frequentes. A nova rotina e o contexto do momento que se vive, fazem subir a ansiedade em quem ali trabalha, mas alavancam, sobretudo, a solidariedade e o empenho de todos, avalia a diretora. Especialmente porque “estamos conscientes de que estamos a fazer o mais correto e os procedimentos recomendados”.
Por ali, há um plano de animação em marcha. Já se fala em preparar um vídeo também com a intervenção das funcionárias. É forma de cortar com a estranheza dos dias e reforçar laços.
Pelo meio, na instituição gerem-se os recursos que são mobilizados para novos serviços, em prol da comunidade. Ficam uns exemplos: se já não há crianças no jardim de infância, quem aí trabalhava e não teve de ir prestar apoio aos seus, ajuda agora quem fica à guarda das valências da Misericórdia.
E se a atividade da creche é agora coisa do passado, o espaço é preparado para receber filhos de profissionais de saúde, bombeiros ou outros, empenhados em ajudar neste momento.
Nas declarações ao REGIÃO DE LEIRIA, Cláudia Braga procura manter a normalidade de discurso própria de tempos normais. Ao rematar a conversa, todavia, sobressai a excecionalidade do presente e emoção. Quer poder agradecer. Pode. E agradece: “a todos os funcionários, sem exceção, porque não é fácil ”.