Estava tudo pronto para um lançamento à maneira no dia 15 de março. Ia haver sopas para acompanhar o concerto da Filarmónica do Arrabal. Mas a pandemia de Covid-19 estragou a festa de lançamento do novo disco.
A banda que tem uma história de sobrevivência a duas guerras mundiais e à vaga de emigração nas décadas de 60 e 70 – nunca deixou de tocar – volta a não baixar os braços: a partir deste domingo, 29 de março, e até 6 de abril apresenta na internet o registo comemorativo dos 120 anos.
“Lançar um disco nos dias de hoje é muito estranho”, admite o presidente da filarmónica, Luís Bernardino.
Mas vai mesmo acontecer: este 29 de março, às 17h15, é mostrado pelo Facebook e Youtube o primeiro tema do novo CD. À razão de uma música por dia, sempre à mesma hora, todos com nove temas de compositores portugueses serão revelados, incluindo a obra original encomendada a Luís Cardoso para dedicar à falecida ex-presidente da filarmónica, a Cecília Rodrigues.
“Entendemos eternizar assim a sua memória”, com a marcha “Cila”, referência ao diminutivo por que era conhecida.
Sem hipótese de mostrar o trabalho ao vivo, a internet é a alternativa. “Preferíamos lançar noutras circunstâncias, porque o que vivemos é terrível. Não dando, e vivendo na incerteza sobre o futuro, será assim, porque também tem um lado de satisfação”, afirma o maestro André Rocha.
No disco, os cerca de 40 músicos da banda interpretam temas assinados por compositores portugueses.
“Se temos bons valores na composição, porque não tocar o que é bom e nosso? Só assim é que eles conseguem fazer mais trabalho”, sublinha Luís Bernardino, ideia reforçada pelo maestro: “Em Portugal temos de dar o devido reconhecimento e valor a pessoas que escrevem bem, compõem e vivem disto. É uma homenagem aos compositores portugueses”, frisa André Rocha.
Atualmente, os responsáveis lutam para que o novo coronavírus não trave a banda. “Pedimos aos músicos para ensaiarem por si, mas não estamos lá para ver. Não há praia, não há centros comerciais, nem voltinhas de domingo. Esperamos que aproveitem para tocar o instrumento”, diz o presidente, que deseja retomar os ensaios “assim que seja possível”.
Uma luta que é comum a todas as bandas, reconhece André Rocha: “Cabe-nos a nós tentar incentivar os músicos a não parar”.
No Arrabal já se espera pelo pós-Covid-19 para a festa como deve ser. “Depois disto passar, vamos apresentar o disco ao vivo. É outra coisa ter o CD nas mãos”, desabafa Luís Bernardino.