Durante estes dias de pandemia, sobretudo no início, a ânsia por informação foi evidente. Mais do que necessária, ela era vital.
Conscientes disso mesmo, os órgãos de comunicação ofereceram um autêntico banquete de informação, composto em grande parte por boas iguarias.
E os cidadãos serviram-se do que quiseram, à hora que quiseram, na quantidade que quiseram.
A maior parte dos comensais fê-lo, no entanto, sem se interrogar como nasce uma mesa assim farta. Que meios são necessários para confecionar cada uma das notícias, reportagens ou entrevistas que é servida. Como trabalham e quem remunera os obreiros do repasto.
A generalidade dos cidadãos não pensa que também no jornalismo há profissionais a que é necessário pagar. Talvez ignore que a principal fonte de receita dos órgãos de informação seja a publicidade e que esta é quase sempre suprimida num cenário de crise.
Ainda assim, jornais como o REGIÃO DE LEIRIA continuaram a trabalhar. E trabalharam mais do que nunca para saciar a fome de informação, ficando eles próprios à míngua.
O Governo sabe disso. Reconheceu-o publicamente na conferência de imprensa de sexta-feira passada, quando a ministra da Cultura anunciou uma verba de 15 milhões de euros para distribuir pelos órgãos de informação sob a forma de publicidade institucional. Graça Fonseca sublinhou que a evolução positiva da situação epidemiológica em Portugal se deve também ao modo como a informação chegou às pessoas.
O investimento anunciado é claramente insuficiente para fazer face às necessidades do sector, mas é um sinal muito positivo. A este, um outro se junta: 25% do valor total será distribuído pelos órgãos regionais. Em matéria de publicidade institucional, é o que há vários anos está previsto na lei, mas o Estado nunca cumpriu.
O jornalismo que, nestes dias, em momento algum, se esqueceu da sua missão, merece bem este reconhecimento do Estado. Que ele seja, então, rápido e consequente. Há um país a reconstruir. A informação vai continuar a ser um alimento essencial, mas o jornalismo não aguenta oferecer outro banquete.
Editorial publicado na edição de 23 de abril de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA