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Cultura

Sean Riley: “Isto vai deixar uma marca muito grande na sociedade”

A reabertura do Teatro José Lúcio da Silva a espetáculos é com um concerto de Sean Riley que é “uma espécie de luz ao fundo do túnel”.

Sean Riley sobe ao palco do Teatro José Lúcio da Silva no primeiro concerto pós-confinamento, esta sexta-feira, 5 de junho. É uma atuação simbólica do projeto a solo de Afonso Rodrigues, que vê neste momento um passo rumo a “um caminho” depois de meses “absolutamente horríveis para muita gente”.

O concerto na sala de espetáculos de Leiria cumpre todas as normas de segurança estipuladas pela Direção Geral da Saúde e Ministério da Cultura, como afastamento e desfasamento entre lugares ou obrigatoriedade de uso de máscara pelo público. Os bilhetes custam 5 euros e podem ser adquiridos aqui. O espetáculo terá transmissão pelo Facebook do Teatro José Lúcio da Silva.

Sean Riley vai tocar sobretudo músicos de “California”, o disco que gravou a solo – sem os The Slowriders – em motéis durante uma viagem aos Estados Unidos da América Foto: Paulo Furtado

Como está a encarar este concerto em circunstâncias especiais no Teatro José Lúcio da Silva?
Com bastante otimismo e com alguma alegria. Não só pelo que representa para mim pessoalmente mas, acima de tudo, pelo que representa para todo o setor da cultura, todos os artistas, todos os técnicos, todas as pessoas que trabalham nesta área. Espero que esta reabertura seja de facto sinónimo de tempos melhores. Os últimos meses têm sido absolutamente horríveis para muita gente. Para mim é uma espécie de alguma luz ao fundo do túnel que é vital para muita gente. Isso é o que mais me alegra neste concerto. 

É um sinal de regresso a alguma normalidade…
É muito positivo perceber que as pessoas desta área se calhar vão começar a trabalhar mais brevemente do que esperariam há um mês ou quinze dias. Não vamos voltar à situação de janeiro de 2020, mas é melhor do que a de março de 2020 ou a de abril 2020. Imagino que antes de 2021 será muito difícil voltarmos a uma espécie de normalidade parecida com a que conhecíamos anteriormente. Mas pelo menos é um passo, uma direção, e aponta um caminho.

Como passou estes meses?
Passei a trabalhar. Estou a ligado à editora Sony Music e estive em teletrabalho permanente. Continuei a trabalhar diariamente, em casa, não tive grandes alterações por aí. Obviamente, a nível pessoal há toda uma densidade de camadas que se altera: a nível familiar, nas relações com as pessoas… Felizmente não tive nenhum problema de saúde na família. 

Compôs ou escreveu alguma música neste período?
Numa fase inicial não. Senti uma grande apreensão e grande sufoco com a situação toda, não necessariamente com a situação ligada ao mundo das artes, mas com a situação do mundo. Que mundo vamos ter no futuro, como vamos viajar, como vamos trabalhar, como nos vamos relacionar com as pessoas que gostamos… Essa ideia de muitas barreiras e muitas alterações sufocou-me um bocado. No momento em que comecei a habituar-me mais a esta realidade, comecei a aliviar a pressão e, aí sim, comecei a escrever algumas coisas. Não necessariamente relacionadas com este tempo, mas sim, a escrever.

Que impacto vai ter tudo isto na criação artística?
Os artistas, por norma, têm como fonte de inspiração a realidade que conhecem ou de que são próximos. Mesmo que às vezes seja ficcionada ou recontada, há sempre um cariz de verdade que influencia aquilo que é feito. Sem dúvida que este período se vai refletir na forma como muita gente vai comunicar e em muitos trabalhos que vão surgir, num horizonte mais próximo e também mais longínquo. Isto vai deixar uma marca muito grande na sociedade. Não é um evento de um dia em que, passado um mês, não pensas nisso. Vai alterar muitos dos nossos hábitos, como outros eventos alteraram, como o 11 de Setembro. Basicamente mudam o comportamento de toda a humanidade para o futuro. 

O concerto no Teatro José Lúcio da Silva, como pessoas na plateia afastadas e de máscara. Como vai ser?
Já tentei imaginar do ponto de vista prático como será fazer um concerto nessas circunstâncias, mas não consegui ainda. A verdade é que num teatro a luz é sempre tão pouca que, imagino, para quem esteja no palco a diferença não será assim muito grande. Não vai ser uma coisa assim tão estranha. Se fosse ao ar livre ou durante o dia, talvez fosse mais impactante. Mesmo para o espectador talvez não tenha um impacto tão grande. Vamos ver. 

O concerto só vai ter meia hora porquê?
Porque estava alinhado para transmissão online a partir da sala. Isto é basicamente um statment que o Teatro e a Câmara aproveitaram para comunicarem aos habitantes de Leiria que a sala está funcional e que as pessoas se podem deslocar e assistir a um espetáculo presencialmente. 

Vai tocar “California”, o primeiro disco a solo.
O disco já saiu há algum tempo e já estamos a trabalhar com Slowriders. Aliás, já saiu um single [“Every time”] e a ideia era ter saído outro por volta desta altura, para o disco que iria sair depois do verão. Mas decidimos abrandar um bocadinho a velocidade das coisas, porque não faz muito sentido lançar discos se depois não tens possibilidade de os tocar ao vivo em condições. Ainda estamos um bocadinho a tentar perceber como as coisas vão evoluir. “California” está praticamente em fim de ciclo e este vai ser um bocadinho um concerto de celebração, até porque vai ficar registado em vídeo. Vou tentar ao máximo, apesar de tocar outros temas – como coisas de Slowriders e mais recentes -, cristalizar o percurso que teve “California” e registar alguns dos temas que eu mais toquei ao vivo deste disco.

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