Pode uma pandemia, aliada ao confinamento a que ela obriga e aos cuidados sanitários que recomenda, relegar para a solidão o monumento que viu nascer uma vila?
José Luís Jorge, fotógrafo e escritor, captou a resposta. Quando a pandemia de Covid-19 obrigou a fechar as portas do Mosteiro da Batalha, os seus vizinhos descobriram-lhe novos usos. Provavelmente, para o manterem por perto.
Esta “reinvenção dos dias” batizou o e-book agora lançado e que pode ser descarregado gratuitamente no sítio da internet do Mosteiro. O autor, José Luís Jorge, captou os momentos em que a pandemia enclausurou o monumento, isolando-o.
Nas zonas circundantes do Mosteiro, todavia, a companhia dos batalhenses manteve-se. Correr, fazer exercício, passear, foram alguns dos destinos dados aos momentos que usaram a companhia e o cenário do monumento.
“Apontei a objetiva a espaços habituados a multidões vindas das sete partidas do mundo, como o mosteiro da Batalha, (onde jaz D. Pedro, o Infante das Sete Partidas), documentando a realidade imposta pelo vírus”, explica o autor no texto que abre o livro.
José Luís Jorge, natural de Leiria, confessa que encontrou o monumento “entregue a uma espécie de solidão, com as portas cerradas”.
No entanto, “o lajedo envolvente — em especial ao final da tarde —, animava-se com jogos de futebol familiares, transformava-se em pista de skate e de patins, recebia caminhantes e ciclistas ou era palco de coisas mais ‘sérias’, aulas de karaté, ou treinos de desportistas profissionais, sempre atentos à forma física, apesar da interrupção das competições em que participavam”.
“A amplidão do espaço”, explica, “permitia liberdade de movimento a todos — maioritariamente habitantes locais — sem se colocarem em risco”.
Joaquim Ruivo, diretor do Mosteiro, no seu texto que pode ser encontrado neste livro, reconhece alguma aparência na calma que marcou os dias da pandemia.
É que ali, no exterior do monumento que dirige, na altura despido de visitantes, a mudança acontecia: “a determinadas horas, sem o rebuliço dos turistas nas praças e a entrarem e a saírem do Mosteiro, ele foi ainda companhia de quem o quis usufruir, mesmo fechado. Bastou estar atento”.
Para além dos momentos em que o monumento se fechou à visita, o livro eletrónico também espelha o tímido regresso dos visitantes.
Igualmente reinventados: “tornou-se indispensável manter uma distância de segurança entre visitantes e todos se metamorfosearam em Zorros, máscaras a delinear as faces”, nota José Luís Jorge.