“Triste, chocado e ofendido”. É desta forma que Carlos Rosário, presidente dos Bombeiros do Juncal, concelho de Porto de Mós, reage ao facto de as autoridades de saúde não determinarem que dois bombeiros que transportaram doentes que vieram a testar positivo para a Covid-19, fossem testados.
Os dois bombeiros efetuaram o transporte, dia 8 de outubro, de dois doentes para o Instituto Português de Oncologia, em Coimbra.
Posteriormente, a instituição informou a corporação de que os dois doentes tinham sido testados dia 15 e que, no dia seguinte, “deram teste positivo de SARS-COV-2”.
Segundo o responsável da corporação do Juncal, a delegada de Saúde de Porto de Mós foi contactada e terá determinado que os dois bombeiros só deveriam ser testados caso apresentassem sintomas da doença.
“Será que o teste é muito caro para quem dá em prol da sociedade o seu trabalho voluntariamente”, questiona Carlos Rosário, numa publicação ontem tornada pública na página da corporação no Facebook.
Ao REGIÃO DE LEIRIA, o presidente da corporação do Juncal adianta que os dois bombeiros foram testados esta manhã, por iniciativa da corporação, aguardando-se os resultados.
“Mandei proceder aos testes de manhã”, revela, adiantando que o município de Porto de Mós assumiu a despesa com os testes, decisão que aplaude.
Carlos Rosário revela que só ontem tomou conhecimento da situação. “Fiquei alarmado”. “Não é uma situação normal”, considera. Para este responsável, não faria sentido esperar pelo surgimento de sintomas para testar os dois elementos da corporação. Nessa altura, “há o risco de poderem já ter infetado mais pessoas”.
No limite, “o quartel podia estar infetado, [colocando em risco] as famílias, as pessoas dos lares, as pessoas de todo o lado, todos os dias transportamos pessoas”, alerta o presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Juncal.
“É evidente que tomamos todos os cuidados”, refere o presidente da corporação, mas, explica, “há sempre perigo”. “Uma vez comunicado o problema, só realizando testes é que podemos ter a certeza”, reforça. Decidir não realizar testes aos bombeiros, diz, “é inadmissível”.
Bolsa assegura testes para bombeiros
A decisão das autoridades de saúde obedece a “um protocolo do Ministério da Saúde que eu não quero colocar em causa”, comenta Jorge Vala, presidente da Câmara de Porto de Mós.
No entanto, explica, o município conta com uma bolsa de testes “para dar resposta quando a Autoridade de Saúde não a dá, para profissionais das IPSS e para bombeiros”.
Casos que envolvam bombeiros e trabalhadores de IPSS do concelho, são sempre prioritários, garante.
“O município tem a preocupação de os bombeiros não serem, em nenhuma circunstância, fonte de transmissão. Independentemente de qualquer protocolo do Ministério da Saúde, para nós é prioritário que façam o teste”, sublinha Jorge Vala.
A bolsa de testes do município de Porto de Mós é do conhecimento público, mas Jorge Vala admite que o presidente da corporação do Juncal não tivesse conhecimento da sua existência. Todavia, “assim que teve conhecimento, a bolsa colocou-se em funcionamento e os bombeiros fizeram o teste, suportado pelo município”, esclarece.
Segundo Jorge Vala, os procedimentos inerentes à bolsa municipal estão já tão rotinados, que o próprio laboratório onde os bombeiros se dirigiram, decidiu contactar o município para confirmar se estes dois novos testes fariam parte da bolsa municipal.
O REGIÃO DE LEIRIA procurou ouvir as autoridades de saúde sobre esta matéria, não tendo recebido resposta até ao momento.