O número de pedidos de ajuda à Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima tem aumentado, situação atribuída à pandemia de Covid-19 e ao desemprego que esta originou, destacando-se as solicitações de famílias imigrantes, sobretudo de nacionalidade brasileira, revelou esta sexta-feira, dia 19, a instituição.
Segundo dados relativos a 2020, a Cáritas Diocesana especifica que registou no atendimento social 1.262 atendimentos, correspondentes a 450 famílias, num total de 1.215 pessoas.
Já na Loja Solidária, onde estão disponíveis vestuário, calçado, brinquedos e artigos para a casa, ocorreram 358 atendimentos, de 190 famílias, totalizando 575 pessoas.
“Em relação ao mês de janeiro do ano de 2021, foram já contabilizados 89 atendimentos sociais, a um total de 62 famílias, contemplando 135 pessoas. Em relação a pedidos de apoio para alimentação, foram realizados 34 atendimentos”, explica a Cáritas Diocesana de Leiria, referindo que se trata de “mais 26 novos processos [famílias] em relação ao igual período do ano anterior”.
Elda Santos, assistente social na Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima, disse que a instituição não sentiu logo em março, quando começou a pandemia, “nem em abril, um aumento exponencial de pedidos” de ajuda, referindo que esse aumento foi notório nos meses de verão.
“Isto deve-se ao facto de muitas famílias trabalharem na restauração, no turismo, e ficaram sem os seus rendimentos”, justificou.
Rita Garcia, psicóloga de formação e que também trabalha na Cáritas Diocesana na área social, adiantou que a “maior prioridade” é o apoio no âmbito financeiro e alimentar.
Na área financeira, a instituição apoia no pagamento de faturas da água, eletricidade, gás e medicamentos.
“A Cáritas de Leiria dava apoio para rendas, de casa ou de quartos, mas em setembro começámos a perceber que a dificuldade para pagar rendas era muita – e as rendas são sempre muito elevadas – e não iríamos conseguir dar apoio a todas as famílias que nos estavam a pedir ajuda para rendas, para medicação, água, luz, gás”, declarou.
A direção decidiu então que, a partir do mês de setembro, “não iria dar apoio para rendas, mas, sim, apoio para situações mais urgentes”, referiu.
Rita Garcia assinalou ainda que houve “a partir de maio do ano passado um grande aumento de pedidos de medicação, medicação essa direcionada mais para problemas psiquiátricos”.
De entre os pedidos de apoio, a técnica destacou os das famílias imigrantes, assinalado que “houve um grande aumento” de famílias brasileiras a recorrer à Cáritas.
Segundo a responsável, estas, por vezes, por não terem a situação regularizada em território nacional, não conseguem, por exemplo, aceder a apoios do Estado.
Elda Santos especificou que a maioria dos pedidos de ajuda tem origem no concelho de Leiria e, neste, em duas uniões de freguesia: Marrazes e Barosa, e Leiria, Pousos, Barreira e Cortes.
“Já tínhamos famílias em situação de desemprego de longa duração, mas temos muitas famílias que nos procuraram que ficaram desempregadas em virtude da pandemia. Os dois trabalhavam, tinham salários e conseguiam equilibrar as contas. Com a perda de rendimentos de um deles, as coisas desequilibraram-se. Se não fosse a pandemia, muitas das famílias que nos procuraram não se enquadrariam no típico perfil de pedido de apoio, porque eram famílias que estavam minimamente organizadas”, explicou.
A assistente social realçou o trabalho com outras entidades, incluindo autarquias e Segurança Social, não apenas para evitar a duplicação de apoio, mas para o fazer chegar a mais famílias e torná-lo “mais consistente e mais dirigido”.
O presidente da Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima, José Marques, reconheceu que não há capacidade para dar tudo, mas assinalou a generosidade que faz chegar bens e dinheiro à instituição, observando que “tem sido essa mais-valia” que a permite sustentar.
“Há generosidade. As pessoas sentem as dificuldades que a Cáritas está a passar e que as famílias estão a passar”, salientou, acrescentando: “Às vezes, surpreende-me a generosidade das pessoas e das instituições que batem à nossa porta”.
José Marques garantiu que a Cáritas “coloca sempre a pessoa no centro de tudo quanto faz”, para que a “sua dignidade seja respeitada e defendida”.